Muitos economistas e analistas econômicos têm enfatizado a importância do ajuste fiscal para a retomada do crescimento da economia brasileira. De fato, vejo o ajuste como condição necessária para que o país volte a apresentar melhores resultados.
Em primeiro lugar, o ajuste fiscal é fundamental para controlar a elevação da dívida pública que está em uma trajetória insustentável e que, consequentemente, vem gerando incertezas em relação à capacidade futura de pagamento do governo federal. Aqui cabe lembrar que o déficit nominal do governo, ou seja, a diferença entre tudo o que ele arrecada e o que deve pagar, inclusive com encargos financeiros, vem rondando a casa de 9% do PIB!
Ajustes fiscais bem feitos afetam positivamente a economia mesmo no curto prazo, via melhora de expectativas
A perspectiva de solvência do país é pré-condição para manter o fluxo de investimentos estrangeiros que são necessários para o fechamento das contas externas, visto que o país gasta mais do que obtém de receitas com o resto do mundo. Mesmo com os elevados níveis das reservas internacionais, uma desconfiança maior por parte dos investidores em relação à capacidade de solvência do país levaria a uma grande reversão do fluxo de capitais, com uma expressiva depreciação do real em relação às demais moedas, impactando na dívida das empresas, na inflação e, portanto, elevando a incerteza no cenário econômico, o que aprofundaria ainda mais a difícil situação que já enfrentamos.
Na verdade, parte da explicação para a crise que enfrentamos atualmente é decorrente do raciocínio exposto anteriormente, visto que a fragilidade do governo federal em passar as medidas necessárias de ajuste fiscal vem provocando incertezas em relação à solvência futura do governo, com efeitos negativos na retração dos investimentos produtivos e, desse modo, no desempenho econômico.
Em segundo lugar, já está bem documentado na literatura econômica que ajustes fiscais bem feitos afetam positivamente a economia mesmo no curto prazo, via melhora de expectativas de empresários, investidores e das famílias, com elevação do investimento e do consumo. Importante ressaltar que a literatura econômica captura esse efeito positivo quando o ajuste fiscal é baseado sobretudo em cortes de gastos do governo, pois, quando realizado com base em elevação de impostos, acaba por sufocar a classe empreendedora, aprofundando a recessão no curto prazo.
Em terceiro lugar, o ajuste ajuda no controle inflacionário, sobretudo quando realizado via corte de gastos públicos, abrindo terreno para a redução dos juros. Este processo (de queda dos juros) é importante para a retomada dos investimentos e gastos das famílias, além de ajudar no próprio ajuste fiscal ao reduzir os gastos com juros por parte do governo.
Se o ajuste proposto tivesse sido realizado no primeiro semestre de 2015, provavelmente estaríamos em um cenário econômico ainda fraco, mas de melhora, com recuperação mais evidente em 2016. No entanto, com a grande dificuldade em convencer até mesmo a base governista e com a falta de convicção do próprio núcleo do governo federal na importância do ajuste, é possível que o cenário recessivo chegue até mesmo a 2017, nos levando para mais uma década perdida!