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Imagem ilustrativa.| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

Em ano de eleição sempre são lançados à vitrine da nação os temas que, em tese, são ou deveriam ser as prioridades do país. Educação, saúde, segurança, emprego e renda são sempre os mais discutidos. Entretanto, de todos esses, a educação é provavelmente a área que convive com o maior paradoxo, sobretudo em um período eleitoral. No discurso, é a área que serve de base para o desenvolvimento da nação. E, na prática, por proporcionar benefícios a médio e longo prazo, acaba tendo um potencial menor de conversão de votos e é, portanto, relegada apenas ao discurso, ficando em segundo plano.

No Brasil, isso se reflete nos desafios, aparentemente intransponíveis, para elevar o padrão da educação básica pública no país, expostos à carne viva durante o período mais crítico da pandemia. Os impactos de aprendizagem nos ensinos fundamental e médio já começam a surgir. Crianças em alfabetização sofreram e ainda sofrem mais. Trata-se de um desafio geracional, que, agora, se soma aos inúmeros desafios existentes ainda sem solução. Problemas com ansiedade e depressão também aumentaram, não somente nos docentes, mas também nos estudantes.

No Brasil, investir em educação infantil de qualidade, emancipatória, que promova a autonomia e o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, deveria ser a base de qualquer plano de governo.

Na educação infantil, as dificuldades são ainda mais graves. Nessa fase, com os estímulos adequados, se observa, no dia a dia, aumento de autonomia, sociabilidade, coordenação motora, além, é claro, do desenvolvimento de habilidades cognitivas que servirão de base para a alfabetização. Esta é uma etapa da vida de grande atividade e plasticidade cerebral, com respostas muito rápidas aos estímulos corretos.

Houve avanços importantes na última década, mas apenas como um exemplo, as creches, etapa da educação infantil de 0 a 3 anos, ainda não é obrigatoriamente oferecida pela rede pública. E, durante o período citado, essas crianças ficaram, na maioria, sem a possibilidade de desenvolver essas habilidades fundamentais por um longo período. Por isso, obviamente, não podemos responsabilizar a pandemia por todas as mazelas educacionais no país. Este é um problema antigo.

A experiência internacional mostra o papel fundamental no desenvolvimento de qualquer sociedade desempenhado pelo investimento em educação, sobretudo na primeira infância. O economista norte-americano James Joseph Heckman já havia relacionado muitos dos problemas econômicos e sociais da América do Norte aos baixos índices de habilidades socioemocionais. Entre elas a atenção, a persistência e a capacidade de trabalhar em conjunto. Ganhador do Prêmio Nobel em 2000, Heckman relacionou o investimento em educação na primeira infância com quedas significativas no investimento estatal necessário nas áreas de segurança e saúde.

Heckman conduziu um estudo com um grupo de economistas, psicólogos do desenvolvimento, sociólogos, estatísticos e neurocientistas. Ele mostrou que o trabalho começa na primeira infância e a qualidade do desenvolvimento escolar nesse período é essencial para gerar resultados melhores na economia, saúde e educação. Essa constatação recebeu o nome de Equação Heckman, que pressupõe investir no desenvolvimento na primeira infância para reduzir déficits e fortalecer a economia.

No Brasil, investir em educação infantil de qualidade, emancipatória, que promova a autonomia e o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, deveria ser a base de qualquer plano de governo. Não há outro caminho, somente uma mudança radical neste paradoxo da educação no Brasil conseguirá reduzir as desigualdades e proporcionar condições para o desenvolvimento duradouro do país.

Thiago Zola é Gerente de Projetos Especiais da Mind Lab.

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