O economista norte-americano Jeffrey Sachs, da Columbia University, declarou recentemente que “o futuro do mundo depende dos engenheiros” e que das suas pranchetas devem sair cinco transformações: das fontes de energia; do uso da terra e produção de alimentos; da urbanização das cidades; dos serviços públicos, educação e saúde; e profunda inovação tecnológica. Neste cenário desafiador, aqui, no Brasil, tais transformações já começam a se desenhar em dois movimentos estratégicos: um na indústria e outro na educação.
Do lado da produção, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou propostas de medidas para apoiar a adaptação de empresas ao modelo que vem sendo chamado de “indústria 4.0”, integrando diversos tipos de tecnologias no processo produtivo, entre elas a Internet das Coisas(IoT), Big Data, impressão 3D, robótica, inteligência artificial e realidade aumentada. Também já estão em curso investimentos em algumas unidades do Senai para a construção de centros de treinamento para a indústria 4.0, focados na educação de jovens estudantes e executivos de empresas do setor industrial.
As novas diretrizes curriculares nacionais virão modernas, inovadoras e transformadoras
Na área educacional, a movimentação é mais intensa. Por isso, podemos citar quatro iniciativas estruturantes que apontam para um novo caminho na formação de engenheiros no Brasil. A primeira iniciativa vem da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), que está liderando a aprovação de novas diretrizes curriculares nacionais, que virão modernas, inovadoras e transformadoras.
A segunda iniciativa é uma tomada de consciência, ampliada e disseminada, no contexto das instituições de ensino, entidades e associações profissionais, de que o atual quadro de calamidade e má qualidade das escolas de Engenharia precisa ser atacado de frente, com a redução das alarmantes notas 1 e 2 no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) em 50% das escolas de Engenharia no Brasil e a adoção de novos sistemas de avaliação seriada formativa, ano a ano, com diagnósticos e planos de ação de melhoria progressiva.
A terceira iniciativa educacional, nesse cenário de futuro, é a criação, pela Poli-USP, da Rede de Escolas de Engenharia Empreendedora, uma ação transformadora e sistêmica que passa pelo treinamento i-Corps, cuja metodologia oferece formação para empreendedores, com o objetivo de incentivar a criação de startups a partir de pesquisas desenvolvidas em universidades e – o mais importante – tendo como base o desenvolvimento de cada cidade, a partir dos seus problemas e suas demandas.
A quarta iniciativa a ser destacada, dentro do contexto de se garantir escala e replicabilidade nacional, é o engajamento e a participação dessa Rede de Escolas de Engenharia Empreendedoras, por meio de seus integrantes, em projetos inovadores das instituições de ensino superior dos cursos de Engenharia, fazendo uso dos avanços da tecnologia educacional, com ganhos na melhoria da qualidade do aprendizado, do devido uso das metodologias ativas e da realidade aumentada, criando uma nova geração de docentes e com custo mais acessível para os alunos, garantindo cursos de qualidade, flexibilidade e com empregabilidade.
Importante destacar que a viabilização desses quatro marcos referenciais foi o resultado de um intenso trabalho conjunto da Abenge, CNI e Ministério da Educação ao longo de 2017 e, talvez, pela primeira vez no Brasil, uma “fusão do trabalho integrado, na busca de qualidade do sistema nacional de educação em engenharia”, das escolas do “topo da pirâmide” (as melhores escolas de Engenharia, que representam apenas 20% do todo) com a “base da “pirâmide” (as escolas que demandam a melhoria da qualidade, que representam 80%). Um grande avanço!
Em 2018, a engenharia brasileira deu a sua virada. Já era hora!