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Vivemos momento ímpar na história da humanidade. Há uma corrida pela descarbonização da economia e os consumidores, sobretudo aqueles das novas gerações, já fazem da sustentabilidade requisito central para a escolha de produtos e serviços. Hoje, um fato auspicioso evidencia essa tendência: a inauguração do Projeto Puma II, o maior investimento da história da Klabin, no montante de R$ 12,9 bilhões.
A fábrica de celulose e papel para embalagem está localizada em Ortigueira, no Paraná, e elevará a capacidade de produção da empresa para 4,7 milhões de toneladas por ano, sendo 3,1 milhões de toneladas de papel e 1,6 milhão de tonelada de celulose de mercado, voltada à exportação. Há, ainda, outros exemplos que ilustram o especial dinamismo desse setor. Na última semana, foi noticiado com destaque a fusão de duas grandes empresas globais focadas na produção de embalagens de papel, ambas com presença no Brasil, a norte-americana WestRock e a irlandesa Smurfit Kappa. Juntas, alcançam um valor de mercado de US$ 20 bilhões e terão presença ainda maior no cenário mundial.
Mais um exemplo é a Irani, que produz papel para embalagens de alimentos, delivery e e-commerce e está ativamente expandindo em 53% a capacidade de produção de sua fábrica em Vargem Bonita, Santa Catarina. A expansão é parte do Projeto Gaia, de cerca de R$ 1 bilhão em investimentos, incluindo uma caldeira de recuperação que permitirá a empresa usar o licor preto, subproduto do processo industrial da celulose, para geração de energia.
Já a Papirus concluiu recentemente a implementação de um pacote de investimentos na ordem dos R$ 40 milhões na sua fábrica em Limeira, São Paulo. Com o investimento, a planta industrial saltou de 96 mil toneladas por ano para uma capacidade de produção de 115 mil toneladas em 2023.
Em parceria com o iFood, a Suzano realizou uma ação de ampla visibilidade durante o Rock In Rio de 2022, em que as embalagens de papel 100% recicláveis desenvolvidas pela empresa e utilizadas no festival foram recicladas e reutilizadas para entregas pelo aplicativo de delivery. A ação alcançou grande sucesso e demonstra a crescente receptividade do consumidor a produtos e iniciativas que tenham a economia circular como valor intrínseco.
Para dar dimensão da grandeza desse mercado, dos 426 milhões de toneladas de papel e celulose comercializados anualmente no mundo, quase metade, o correspondente a 188 milhões de toneladas, é de papel para embalagem, segundo a consultoria global AFRY. Um dos fatos a explicar a relevância crescente das embalagens de papel é a mudança de hábito dos consumidores em direção a uma economia digitalizada, marcada por serviços de delivery e comércio eletrônico. Durante a pandemia, tal movimento escalou ainda mais, com um intenso crescimento da demanda. No Brasil, o setor de árvores cultivadas soube se preparar para o momento e pôde atender às necessidades do país, potencializando seu volume de produção a partir da capacidade fabril já existente.
Uma segunda motivação do avanço do setor é o cumprimento de seu papel como fornecedor de soluções sustentáveis. Na esteira da transição global rumo à substituição das fontes fósseis, projeta-se que a demanda pelas embalagens de papel continue crescendo ainda mais nas próximas décadas. O setor entende essa conjuntura e, com uma carteira de investimentos de R$ 61,9 bilhões até 2028, já inaugura uma fábrica a cada ano e meio, investindo, com base em modelo de bioeconomia em grande escala, em estrutura fabril, P&D, logística, novos usos e novos produtos.
Hoje, essa pujança é palpável em todo o país e o setor contribui para levar efetivo desenvolvimento socioeconômico e respeito à natureza para os mais de mil municípios onde está presente. A dedicação do setor à circularidade vem se solidificando, aliás, de forma sistêmica por toda a cadeia produtiva. Segundo levantamento da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e do Ibre/FGV, em 2022, 75,8% do papel para embalagem produzido no país foi reciclado. Em 2000, o índice era de 57,9%. O salto também é reflexo da visão do setor para a economia circular: a reciclagem é uma realidade cada vez mais presente, de ponta a ponta da cadeia.
Tudo que é produzido terá de ser reciclado ou retornado à terra, eis um forte ensinamento de nossos tempos. Cada vez mais, as novas gerações assimilam tal premissa em seus hábitos de consumo. Diferentemente de outras oportunidades, o Brasil não deve desperdiçar a chance de capitanear um movimento global por uma economia que seja, simultaneamente, verde e produtiva, superando um velho dilema que deve ficar no passado, entre preservar e gerar riquezas.
Neste dia 21, Dia da Árvore, lembramos que este que este é um setor fincado na rota da sustentabilidade, que planta 1,5 milhão de arvores por dia e conserva 6 milhões de hectares de mata nativa, uma área maior que o estado do Rio de Janeiro. O setor de árvores cultivadas é um exemplo de como o caminho da economia verde pode ser trilhado: as embalagens de papel são um símbolo da convergência entre os desejos de consumidores por um planeta saudável e a proatividade de uma indústria sustentável em sua essência.
Paulo Hartung, economista, é presidente da Ibá; José Carlos da Fonseca Jr., embaixador, é presidente da Empapel.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos