Ninguém compra máquinas por uma questão de status. Como também ninguém compra equipamentos porque o dólar está baixo, ao contrário do que afirmam por aí, mesmo porque câmbio baixo significa preço menor nos produtos que fabricamos, o que reduz a rentabilidade da indústria.
O Real apreciado, na realidade, causa basicamente a substituição de máquinas e equipamentos nacionais por importados. E se, no limite, o câmbio for muito favorável à importação, o industrial em vez de importar máquinas passa a importar o produto final. Foi isto que, salvo breves períodos, ocorreu nos últimos 15 anos.
Máquinas, normalmente, não são produtos de prateleira. Precisam ser encomendadas e enfrentam longos ciclos de produção para chegar ao seu destino final. São compradas por necessidade, quando há perspectivas de continuidade da demanda e da rentabilidade, no mercado interno e/ou na exportação.
São compradas para produzir mais e de forma mais eficiente, de modo a gerar receita e lucro suficiente para se pagarem. Por isso mesmo, são habitualmente financiadas em prazos dilatados, de modo que o caixa por elas gerado permita pagar o equipamento ao longo do tempo e ainda deixar alguma margem para a empresa.
Por causa disso, o custo do financiamento é crítico para viabilizar o investimento. Considerando que o lucro médio das indústrias, nos bons tempos em que tinham lucro, girava ao redor de 12% sobre o patrimônio, que inclui o valor dos equipamentos. É óbvio que o custo do financiamento não deveria superar a estes mesmos 12%.
Ora, no Brasil, os bancos não só não oferecem financiamento nos prazos necessários, de cinco anos ou mais, mas, além disso, cobram juros muito superiores ao retorno das empresas, fazendo com que o financiamento bancário, em vez de ser um instrumento de alavancagem da produção, seja um óbice ao investimento.
Outra alternativa, muito usada nos países desenvolvidos, é buscar recursos para investir no mercado de capitais. Entretanto, no Brasil, nosso mercado de capitais, obrigado a oferecer rentabilidade superior ao da remuneração dos títulos públicos, ou seja, da Selic, tem, normalmente, custos acima da rentabilidade da indústria.
Nesse contexto fica patente a importância do papel do BNDES como banco de fomento, por ser o único banco de todo nosso sistema financeiro capaz de fornecer recursos com prazos de amortização adequados e a custos compatíveis com as margens do investimento produtivo.
Criticar o BNDES por cumprir este papel e querer encarecer seu funding obrigando-o a captar no mercado, concorrendo com títulos da dívida pública de governos que não primam pelo equilíbrio das contas públicas, pode interessar ao setor financeiro mas, certamente, não interessa ao Brasil.
Nós não pleiteamos favores, mesmo porque, hoje, um financiamento BNDES via Finame para comprar uma máquina já custa ao investidor juros superiores a 15% ao ano, para uma inflação que está rodando abaixo de 4% ao ano. Fica difícil, nessas circunstâncias, se falar de subsídios para o investimento produtivo.
Queremos apenas isonomia para concorrer, em condições de igualdade, com os fabricantes externos. Queremos, juros civilizados, crédito adequado, câmbio competitivo e um sistema tributário simples e equitativo, que não deixe um resíduo de mais de seis pontos percentuais de impostos não recuperáveis dentro de nossos preços.
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