Aquelas empresas que não estiverem abertas para inovação ficarão para trás, até que não consigam mais sobreviver. Essa frase, um pouco forte, tem se tornado comum em diversos mercados. Ao produzir o relatório Soluções inovadoras para soluções reais em modalidades olímpicas e paralímpicas, percebi que o Comitê Olímpico Internacional não só conhece a sentença, como está pondo em prática o conselho inserido na frase.
O documento foi uma iniciativa de quatro marcas: Cadeira Central (consultoria fundada por mim), Brazil Sports Tech, Sportheca e Sports Network. As quatro instituições têm em comum o desejo de transformar a indústria do esporte por meio de ideias e ações inovadoras, com este estudo sendo parte da mudança.
Ao escolher o cenário olímpico como tema principal do estudo, uma das nossas preocupações era justamente o conservadorismo existente nesse universo. Os Jogos Olímpicos são um evento histórico e carregam algumas tradições desde as primeiras edições, seja entre as modalidades presentes no programa, seja no revezamento da tocha olímpica. Além disso, instituições como Comitê Olímpico Internacional (COI), Comitê Olímpico do Brasil (COB) e entidades de modalidades específicas seguem o mesmo caminho, principalmente pela mentalidade das pessoas que lá estão.
A preocupação em relação ao conservadorismo do COI logo ficou para trás. O planejamento para os Jogos de Tóquio 2020 mostraram que os principais envolvidos com o megaevento estavam totalmente cientes de que a inovação é uma ferramenta indispensável nos dias atuais. Um dos exemplos disso é o Tokyo 2020 Games Foundation Plan, documento lançado em 2015 pelo comitê organizador como uma espécie de framework para a preparação e entrega dos Jogos, que continha desde aspectos preparatórios até metas estratégicas. Em seu primeiro capítulo, Games Vision, é exposta a visão desta edição dos Jogos, tendo três fatores como base: Achieving Personal Best (“alcançando o seu melhor pessoal”), Unity in Diversity (“unidos na diversidade”) e Connecting to Tomorrow (“conectando com o futuro”).
Para unir as três vertentes, o Comitê Organizador definiu a inovação como principal ferramenta, surgindo assim a ideia de a edição Tóquio 2020 ser a mais inovadora da história dos Jogos Olímpicos. A partir disso, o COI atingiria seu objetivo de tornar os Jogos mais ligados à juventude, urbanos e equilibrados em termos de gênero.
A entrada de novas modalidades no programa foi uma das ações neste sentido. Foram cinco novas modalidades vistas em Tóquio: baseball/softball (que já estiveram no programa olímpico, mas haviam saído), basquete 3x3, escalada esportiva, skate e surfe. Entre elas, o skate entregou exatamente aquilo que era buscado. Vimos atletas competindo com muita alegria, interagindo entre si, tornando a disputa algo divertido, com o formato dinâmico do torneio chamando a atenção de todos. A idade dos competidores foi mais um fator importante para impactar o público mais jovem, tanto no masculino quanto no feminino. Um sucesso que segue para os Jogos de Paris 2024.
Ainda falando de Tóquio, o equilíbrio de gênero surgiu como um dos grandes destaques do evento. Se nos primeiros Jogos Olímpicos as mulheres eram proibidas de participar, neste ano a presença feminina foi de 49% entre os participantes, número maior que os 45,2% da Rio 2016. As medalhas conquistadas por brasileiros seguem no mesmo caminho, sendo 12 obtidas por homens e 9 por mulheres. Para a edição de Paris 2024, a previsão é que a igualdade seja alcançada, com 50% dos participantes de cada gênero.
Por falar nas próximas edições, o futuro dos Jogos Olímpicos foi mais uma área analisada no estudo, também pelo fato de a inovação ser um trabalho de médio/longo prazo. Nesta seção ficou claro que as instituições deste mercado entenderam que será preciso inovar para seguir sendo relevante, considerando principalmente as novas gerações.
Esse entendimento está exposto no documento “Agenda 2020+5”, elaborado pelo Comitê Olímpico Internacional no começo deste ano. Trata-se de 15 recomendações para o futuro, que devem ser seguidas pelos principais agentes olímpicos em busca de um futuro estruturado para os Jogos. Dentre as medidas estão aumentar o envolvimento digital com o público, incentivar o desenvolvimento de esportes virtuais e inovar nas fontes de receita, todas ligadas à inovação.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio serão considerados no futuro como um marco histórico. As modificações implantadas para este ano atingiram seu propósito, servindo de sustentação para que o COI possa seguir buscando ações inovadoras. Muitas delas serão aprimoradas para Paris 2024, e mais ainda em Los Angeles 2028 e Brisbane 2032, com iniciativas voltadas também para áreas de sustentabilidade, governança e crescimento dos atletas. Como dissemos no relatório, que essa transformação faça com que os Jogos Olímpicos mais inovadores da história sejam sempre os próximos!
Rodrigo Romano, economista com especialização em Gestão Esportiva pela FGV/Cies/Fifa, fundou a consultoria Cadeira Central e atua na edtech FootHub.
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