Tais feitos e a amizade incondicional que ligava o herói aos seus comandados con­­quistaram a admiração dos seus superiores e camaradas, pela intrepidez com que aceitava as missões

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A notícia da morte de Max Wolff Filho, herói brasileiro da Segunda Guerra Mundial, espalhou-se por todos os acampamentos brasileiros. Tal anúncio percorreu na frente e na retaguarda das tropas, nos "fox role" e nos postos de observação avançados, reforçando, a cada narrativa, a figura heroica do combatente. Ficara retida nas mentes a imagem de um soldado destemido, líder do seu grupo e, o mais relevante, a marca de sua personalidade altruísta e espírito de companheirismo denotado a quem precisasse.

A conquista de Monte Castello, em fevereiro de 1945, reforçava o pensamento de vitória entre os combatentes brasileiros, criando o perfil de um novo soldado, redimindo, dessa maneira, os primeiros percalços da FEB.

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A cidade de Montese, localizada a noroeste da Itália, constituía um desafio para os brasileiros: suas fortificações naturais asseguravam refúgio importante para as tropas alemãs remanescentes que ali estavam estacionadas. Na expectativa de que tropas aliadas chegariam a qualquer momento, os alemães haviam disseminado minas na parte sul da cidade, criando uma barreira quase intransponível. Segundo o comando aliado, havia notícias de grande movimentação de tropas alemãs na área.

Muitos fatos na guerra, para os soldados brasileiros, estão envoltos no nome do sargento Max Wolff Filho, que pertenceu ao 11.° R. I. da FEB. O seu nome está ligado às patrulhas das quais participou ou que comandou durante o inverno de 1944 e mais tarde na Ofensiva da Primavera (abril de 1945).

Max Wolff Filho nasceu no dia 29 de julho de 1911, em Rio Negro (PR), há cem anos. Como militar, serviu no 15.° Batalhão e Caçadores em Curitiba; no Rio de Janeiro chegou ao posto de 3.º sargento. Durante a organização da Polícia Municipal do Distrito Federal (RJ), integrou o novo grupamento. Wolff foi recusado no processo da seleção médica para ingresso na FEB, pois apresentava um problema de saúde. Contam os historiadores que ele buscou recursos médicos e assim acabou embarcando junto com o 11.º R.I., no 2.º escalão que saiu do Brasil.

A patrulha comandada por Max Wolff, e na qual foi vítima, é envolvida até hoje pelas mais diversas interpretações. Aquele dia fatídico, 12 de abril de 1945, mal despertara e o Posto de Comando do 1.º do 11.º R.I., localizado em Monteforte, estava tomado pelos oficiais, artilheiros e pelos correspondentes de guerra.

À luz do dia, o lançamento de patrulhas era algo de muita temeridade. Escolhido, na noite anterior, para comandar o pelotão especial, Wolff havia estudado todos os detalhes com o oficial de operações e, como sempre fazia, verificava cada soldado do seu pelotão. Ao chegar à cota 732, em Morciani, Wolff deixa para trás parte dos seus homens para um apoio. Ao se aproximarem da cota 747, na localidade de Riva di Biscia, Wolff tinha consciência do perigo que corriam. As duas frações se aproximaram muito das casas. O terreno estava fofo, o que dificultava a caminhada. Aquele instante, perto do meio-dia, o comandante é atingido pelas balas de uma metralhadora MG42 e, ferido mortalmente, tenta se mexer, mas é ferido novamente por tiros que partiram do mesmo local, deixando-o definitivamente imóvel.

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O inimigo preparou uma barragem de fogos diante de suas posições, dificultando o resgate de Wolff. Na tentativa de resgatar o corpo do herói, o sargento Faccion e o soldado Antonio de Sá Rodrigues ficaram feridos, ao passo que o soldado João Estevan morria no local.

Das missões em que Wolff participou, seu nome foi registrado pelos escreventes do 11.º R.I. – principalmente nas primeiras jornadas infrutíferas da Tomada de Monte Castello. Tais feitos e a amizade incondicional que ligava o herói aos seus comandados conquistaram a admiração dos seus superiores e camaradas, pela intrepidez com que aceitava as missões.

Nos dias que se seguiram à morte dos patrulheiros, a FEB desencadeou a sua ação sobre a cidade de Montese e seu entorno. Os violentos ataques da artilharia alemã e os campos minados provocaram elevadas baixas na tropa brasileira. Somente no dia 17 de abril de 1945 caía Montese, na maior operação bélica desencadeada por um regimento. O saldo para a cidade foi trágico, quando se registrou cerca de mil mortos entre os civis, e a cidade de arquitetura medieval perdeu mais de 1.350 de seus prédios históricos.

Aqueles dias da primavera de 1945, a FEB partia para os seus últimos combates. Agora confiante, gravando para a posteridade o seu nome nos anais da História Contemporânea Brasileira. Eis a memória que não fenece, mas insiste em existir.

Carmen Lúcia Rigoni, doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina, é autora, entre outras obras, de Nas Trilhas da 2ª Guerra Mundial e de Bravos Combatentes da FEB: memórias, monumentos, testemunhos perpétuos de uma história (Itália 1995/2005).

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