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Foi-se o tempo em que a falta de experiência era o problema para jovens no mercado de trabalho. Nos dias atuais, os desafios estão entre o aumento de empregos informais e o difícil acesso ao ensino superior – problemas esses comprovados por estudos. Apenas no Paraná, por exemplo, estado que ocupa o quinto lugar no ranking de menor taxa de desemprego no país, 32% dos trabalhadores são informais, ou seja, 1,85 milhões de pessoas, o que implica em milhares de jovens sem garantias e segurança no emprego.
Além disso, apenas este ano, o Paraná registrou um aumento de 148% de evasão escolar entre jovens de 15 a 17 anos, ou seja, cerca de 407,4 mil adolescentes estão sem o ensino médio completo. Todos esses números já levantam uma reflexão fundamental se analisado apenas para o Paraná, mas é ainda mais urgente quando analisamos o Brasil como um todo, que atingiu o recorde de 12,3 milhões de nem-nem – grupos de pessoas que não estuda e nem trabalha, sendo desses, 30% jovens.
Todo esse cenário traz à tona problemas como baixo crescimento da economia e falhas na educação. Não por menos, presenciamos o auge da desigualdade, do aumento da violência, uso de drogas e outros problemas de segurança pública. Esse jovem enfrenta dificuldades para encontrar uma ocupação remunerada por uma série de fatores que está aquém da falta de experiência.
Na educação, não faltam ideias, tampouco propostas. Exemplos disso são a Base Nacional Comum Curricular, que leva em conta não apenas uma base conteudista, mas que propõe ao aluno pensar em soluções criativas, que desenvolva habilidades socioemocionais. Ou ainda o empenho heroico de professores e outros profissionais que faziam, em meio à pandemia, a chamada busca ativa ao notar que alguns alunos não compareciam na escola. Há, ainda, a reforma do ensino médio, que oferece uma formação mais técnica e voltada para a inserção desse jovem aluno no mercado de trabalho e da qual tenho fortes esperanças de que ajude a resolver parte de um problema que sistematicamente afeta nossos jovens, como a falta de perspectivas de geração de renda.
No entanto, essas soluções precisam vir acompanhadas de políticas públicas fortes, consistentes e que cheguem, de fato, ao objetivo final, que é permitir que o aluno se forme e consiga um emprego. O problema é que já amargamos consequências graves da pandemia e não há tempo a perder. Um relatório do Fundo Monetário Internacional revelou que, dentre os países do G-20 que tiveram escolas fechadas durante a pandemia, o Brasil é um dos que mais terão a renda de estudantes afetadas. Segundo o documento, haverá uma redução de 9,1% nos ganhos dos alunos brasileiros ao longo dos anos.
É preciso conectar a vida escolar à realidade desse jovem. No ensino integral, por exemplo, o aluno deve sentir que passar mais tempo na escola é uma chance de adquirir mais conhecimentos, mas de uma forma que faça sentido para ele e que não seja enfadonha. É preciso tornar possível um desenvolvimento educacional pleno, levando ao estudante a chance real de conquistar o seu espaço, por meio de formação universitária e um emprego digno.
Isso não é só um vislumbre. Um exemplo pode ser observado em Pernambuco, que saltou de um dos últimos lugares no ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2007, para um dos melhores índices já em 2015, além de uma taxa de evasão baixíssima. Mas, por se tratar de um assunto extenso e complexo, a conclusão do ensino médio por si só não é uma solução para nossos jovens. É necessário que se crie também políticas de apoio para que o concluinte dessa etapa esteja apto para atuar profissionalmente, de preferência de acordo com a cadeia produtiva local, obtenha renda própria e pense no seu futuro, seja trabalhando, ou entrando em uma universidade.
Thiago Zola é professor, mestre em Educação, especialista em Psicologia da Educação e gerente de projetos estratégicos da Mind Lab.