Nos últimos meses, pudemos observar com maior ou menor proximidade o desmonte da economia venezuelana. Aos poucos, alguns elementos básicos para a vida da população venezuelana foram sumindo dos mercados. A economia foi perdendo a sua vitalidade. Ultimamente, os saques e os cortes de energia elétrica têm se multiplicado não apenas na capital, Caracas, mas também em outras cidades do país.

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O que ocorre na Venezuela, atualmente, pode ser um sinal para toda a América Latina, uma vez que ela pode ser usada como um exemplo do que pode ocorrer na região em razão da nossa pauta exportadora.

Com a chegada ao poder de Nicolás Maduro, problemas estruturais se tornaram mais evidente

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Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde a sua criação no ano de 1960, a Venezuela ao longo de sua história dependeu da exportação deste produto para o mercado mundial.

Antes da crise financeira internacional iniciada em 2008, o barril de petróleo chegou a ser negociado a US$ 140,00 na Bolsa de Nova York. É importante lembrar que a crise econômica internacional começou com a quebra de uma série de grandes instituições financeiras norte-americanas, o que reduziu a quantidade de recursos disponíveis na economia global.

O fim destas instituições causou uma redução de consumo que gerou consequências sentidas até hoje. Esse dinheiro, que seria utilizado em outras atividades ou destinado à compra de produtos primários foi reservado pelos grandes bancos e governos dos países desenvolvidos para conter os danos da crise econômica.

O efeito disso foi sentido quase que imediatamente por todos os países da América Latina, mas com mais força na Venezuela, na Bolívia, no Chile e, em menor medida, no Brasil. Se, por aqui, os planos da autossuficiência e o sonho dourado do pré-sal ficaram um pouco distantes mas não acabaram, na Venezuela o efeito foi profundo.

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O governo de Hugo Chavez, de 2002 a 2013, foi baseado no financiamento de atividades e programas sociais, com foco na economia de base e no consumo da população, financiado através da exportação de petróleo. O dinheiro que entrava através do envio deste produto ao mercado global servia de financiamento para quase todas as atividades de governo.

Com a chegada ao poder de seu sucessor, Nicolás Maduro, este problema estrutural se tornou mais evidente, uma vez que as dificuldades foram aumentando numa economia que viu o dinheiro estatal ficar cada vez mais escasso, o que gerou uma reação mais truculenta do governo central com relação aos agentes econômicos e aos opositores do regime.

A dependência de apenas um tipo de exportação, como é o caso da Venezuela, apresenta um desafio aos países da América Latina, uma vez que o crescimento da região na última década foi movido à base das commodities e da exploração dos recursos naturais. Esse movimento foi facilitado pela fome da China por esses recursos nas últimas décadas, o que afeta a economia global como um todo.

A China, porém, está num processo de diminuição planejada do seu crescimento, ao mesmo tempo que passou os últimos anos comprando terras e instalando redes logísticas na África. Com a desindustrialização causada pela exportação de commodities, a América Latina como um todo agora se depara com o desafio de manter o crescimento econômico tendo que competir com outras fontes de recursos para a economia chinesa. Nosso desafio será encontrar outras alternativas ou deixar de ser uma região puramente de exportação de alimentos e recursos naturais, se queremos passar os próximos anos com desenvolvimento econômico e social.

Gustavo Glodes Blum, mestre em Geografia Política, é professor de Geografia Política e Política Internacional do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.