Tenho a honra e a responsabilidade de ter nascido em uma família que há séculos preza por valores como verdade, honestidade, honradez, simplicidade e crença no que é certo e para o bem, mesmo que este não seja o caminho mais fácil para prosperar. Assim tem sido desde os tempos de meus tataravós, e trabalho para que assim continue com os meus filhos.
Tenho acompanhado as novas tendências globais e uma delas, em especial, me chamou muito a atenção: a criação da palavra “pós-verdade” e sua escolha como a “palavra do ano” de 2016 pelo famoso dicionário Oxford. Primeiramente, pela natureza dos fatos, pois em princípio a palavra é no mínimo intrigante. Em segundo lugar, preciso entender como lidar com esta nova realidade do mundo moderno e como criar meus filhos em uma sociedade na qual as verdades não mais correspondem aos fatos, na qual a opinião simplesmente prevalece e ponto.
Preciso entender como criar meus filhos em uma sociedade na qual as verdades não mais correspondem aos fatos
Não se pode ser ingênuo. A mentira sempre existiu desde que o mundo é mundo. Já ganhou guerras, já fechou acordos, já inspirou grandes movimentos e ideologias. Faz parte do dia a dia das pessoas. O que está acontecendo agora é diferente. As redes sociais catalisaram o potencial que ela por si só já tinha. Virou uma arma poderosa. É a afirmação de que a mentira vale mais do que realmente pesa, mais até que a própria verdade, que é glamourosa e que recompensa! Afinal, a pós-verdade pode ser entendida por alguns como uma evolução da verdade, o que de fato não é. Definitivamente, não é e não pode ser.
Ricardo Campelo Magalhães, consultor financeiro, escreveu: “Vivemos tempos curiosos, em que a verdade já não é o que era. À esquerda como à direita, a ciência da persuasão é hoje mais importante que o rigor dos fatos e conceitos frios como números e matemática”. Atualmente, os fatos importam menos que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar – ou seja, são tempos em que a verdade foi substituída pela opinião.
E como isso pode nos impactar? Reputações de pessoas e empresas, construídas e mantidas a duras penas durante décadas ou mesmo séculos, podem ser arruinadas em minutos. Pessoas mal intencionadas, radicais em busca de poder e mercado, de forma fraudulenta, disseminam e tornam virais vídeos, notícias e documentários que acabam com produtos, serviços e pessoas. Estudos indicam que mais de 70% das notícias que hoje são colocadas nas redes sociais são falsas. Somado a isso, nos deparamos com pessoas que leem e analisam pouco e que, mesmo sem ler, compartilham como se verdade fosse, sem medir os possíveis impactos.
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Parece besteira, mas empresas de jornalismo estão criando departamentos de verificação de notícias para não serem corresponsáveis pela disseminação de notícias inventadas. Organizações de todas as naturezas hoje têm a necessidade de verificar várias vezes dados de leitura de mercados, de posicionamento de produtos e marcas e até dados compartilhados por associações em teoria confiáveis. Dados econômicos mascarados e adulterados, somente para que sejam bem vistos e aprovados pela grande massa.
Charles Darwin definiu que sobrevive aquele que se adapta melhor. Será que, se ele fosse vivo hoje, diria que sobrevive quem influencia e molda a opinião pública melhor?
E você, qual a sua opinião? Eu preferia a palavra do ano de 2015 da Oxford, o emoji “Chorando de Alegria”. Ou será de tristeza, depois de 2016? Fica a reflexão!