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Opinião do dia 1

A missão inglória de Isaías

Albert Jay Nock publicou um ensaio, em 1936, intitulado "A Missão de Isaías", no qual relata uma passagem interessante. Durante o reinado do rei Uzias, no século VII a.C., Deus teria instruído Isaías para que fizesse uma profecia ao seu povo. E o Senhor lhe disse:

"Diga a eles o que está errado e por quê. E o que lhes acontecerá se não houver uma mudança profunda na sua maneira de agir e de pensar. Fale francamente. Deixe claro que esta é a última chance. Fale firme e insista até que eles compreendam".

Compreensivelmente, Isaías ficou apreensivo, quando o Senhor acrescentou:

"Devo dizer-lhe que isto de nada adiantará. As elites e os intelectuais desprezarão as suas advertências; as massas não lhe darão ouvidos e, provavelmente, você terá sorte se conseguir sair vivo disso".

Quando Isaías perguntou por que deveria dar-se ao trabalho de fazer tal profecia, se ninguém lhe daria importância, o Senhor respondeu:

"Entenda bem: existem sempre os Remanescentes que você nem conhece e a respeito de quem você nada sabe. Eles são humildes, desorganizados e aparentemente desinteressados. Precisam ser encorajados, porque quando tudo der errado serão eles que retornarão e construirão uma nova sociedade e, até que isso ocorra, sua pregação servirá para lhes manter vivo o interesse e a esperança. Sua tarefa é cuidar desses Remanescentes. Agora vá e dê cabo de sua missão".

Essa passagem me veio à mente em função de dois fatos. Primeiro, a entrevista do respeitado cientista inglês, James Lovelock, dada à revista Veja de 25/10/2006, dizendo que a Terra já atingiu o "ponto sem volta". Sob o título "A Vingança de Gaia" (Gaia significa Terra), ele afirma que por volta de 2040 o aquecimento do planeta levará a uma situação insuportável e que, até o fim deste século, a temperatura média da Terra poderá subir até 6 graus. Se isso ocorrer, é provável que desapareça 80% da humanidade. Os 20% restantes irão sobreviver em regiões de temperaturas mais baixas, onde haverá um pouco de chuva.

O cientista afirma que o equilíbrio natural começou a ser rompido quando a população superou um bilhão de seres humanos, em 1830. Hoje, com mais de 6,5 bilhões de habitantes, a necessidade de produzir comida é a causa da destruição das coberturas florestais que tinham a função de regular o clima. Diz ele que a Terra se recuperará... em 200 mil anos.

Assim como o profeta Isaías, o dr. James Lovelock não será ouvido e será chamado de louco e pessimista, apesar do prestígio que goza no meio científico. Se ele estiver certo, quando 80% da humanidade desaparecerem, talvez os 20% sobreviventes consigam compreender que o homem, esse animal fantástico, usou bem os dois lados do seu cérebro: a genialidade para criar e multiplicar e a estupidez para se matar. Pode ser que, daqui a 200 mil anos, o que restou desse animal esteja em condição de ser digno da sua morada.

O segundo fato que me lembrou o alerta de Deus ao profeta foi o aniversário da morte de Roberto Campos, ocorrida no dia 10/10/2001. Tendo recebido a visita do seu filho, Roberto Campos Júnior, lembrei-lhe o quanto seu pai fora espicaçado pelas esquerdas por duas propostas: o planejamento familiar e privatização. Ele estava certo antes do tempo e, por isso, foi vítima do escárnio das esquerdas e dos "neossauros", os novos dinossauros da política nacional.

Quanto à privatização, assustei-me com a capacidade dos "neossauros", alguns muito jovens em idade e pré-históricos em economia, de convencer intelectuais, jornalistas e os eleitores de que a privatização é um mal. O presidente Lula conseguiu se eleger lançando a pecha de "privatista" em Alckmin, como se a privatização tivesse sido ruim para o país. É o contrário! Foi a salvação parcial. Basta imaginarmos o Brasil com as 546 empresas estatais que existiam quando Collor assumiu, tomadas de assalto pelos políticos, esses sim os verdadeiros poderosos, sangrando os cofres públicos e tripudiando sobre o consumidor.

Ortega y Gasset dizia que a multidão não pensa, apenas segue seus líderes, repetindo os bordões que eles criam e bradam, de preferência, aos gritos.

José Pio Martins é professor de economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP.

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