As mídias sociais desequilibraram os pratos da balança para o lado da implantação da democracia
Jorge Lacerda (ex-governador de Santa Catarina), no discurso de formatura da Faculdade de Medicina do Paraná, no Clube Curitibano, no ano 1937, representando seus colegas de turma, definia com sabedoria que: "A mocidade é a estrofe de fogo que Deus compôs no poema do Universo! Os ideais dos moços são estandartes carregados por asas de condores, que não rastejam nos pantanais, mas que rompem seus voos nos píncaros das montanhas azuladas, batidos pelos ventos da liberdade! Somos a primavera do pensamento e da força! A primavera da vida, assim como a primavera é a mocidade do tempo! Não conhecemos o ceticismo, que é o túmulo do ideal, nem cantamos as elegias do pessimismo, que é a marcha fúnebre dos ideais desfeitos!"
A mocidade, em todas as épocas, alimentou motivações de rebeldia e renovação. Os anos 1960 foram de grandes transformações. Nos Estados Unidos desenvolveu-se o clima contrário à guerra do Vietnã. Os movimentos estudantis foram fermentando, e com o assassinato de Martin Luther King houve um desapontamento em relação ao status quo. Os movimentos de jovens tiveram influência muito grande na transformação da mentalidade da época. Por outra parte, o movimento da primavera de Praga, visando à democratização do então regime comunista, provocou a reação russa, e a opressão esmagou a reação incipiente contra o totalitarismo de esquerda estalinista. A juventude do planeta, naquela altura, por motivos muito díspares, clamava por mudanças. Parece ter sido comum a todos esses movimentos o sentimento de descontentamento com a situação vigente de injustiças sociais.
Passados 43 anos do maio de 1968, um outro fenômeno, não menos importante, deu-se por meio das redes sociais, lideradas por jovens descontentes com a situação do seu país o Egito. Por meio dos computadores e celulares, arregimentando pessoas pelas redes sociais, conseguiram a pressão social para a queda de Mubarak.
Esse movimento, que corre de país em país árabe, encontra campo adubado para a revolta, devido aos regimes opressivos e perversos que deixam enormes massas de pessoas abaixo da linha da pobreza. Pelos resultados do movimento, aparecem as marcas profundas das grandes transformações sociais.
Chama a atenção a mobilização promovida por meio das redes sociais. Sem a pretensão de maiores aprofundamentos, apenas destaco um fenômeno de solidariedade mais forte que o regime opressivo: após fazer parte dos protestos pró-democracia que culminaram com a renúncia do então presidente Hosni Mubarak, um grupo de jovens egípcios organizou um centro para vítimas, em um local secreto, para buscar informações de mortos, feridos e desaparecidos. Ainda há espaços de solidariedade humana em meio do caos!
As mídias sociais desequilibraram os pratos da balança para o lado da implantação da democracia na região. A influência e a extensão dos "estragos", para os ditadores de plantão, são imensos. Os especialistas estão atônitos e não têm ideia do que poderá ocorrer com a ação de milhões de jovens plugados na internet. Andy Carvin especialista em mídias sociais da NPR rádio americana , experiente na organização de redes de alta conectividade, comentou: "Há anos existe um grupo de blogueiros dissidentes, tanto dentro quanto fora do Egito, que se comunicam ao mundo seu desejo de mudança. Eles também usam o Facebook e o Twitter para atrair mais gente. Claro, em última análise, a ação teve de acontecer no mundo real protestos, ocupações , mas parte dessas atividades foi organizada e difundida por mídias sociais".
O que se vê é uma convergência de motivos que levam à derrocada dos regimes árabes. Para o professor de Ciência Política da Universidade do Cairo Moataz A. Fattah, há cinco aspectos-chave: 1) a defasagem geracional entre governantes e uma população cuja maioria é jovem; 2) já não bastam os recursos petrolíferos, pois o IDH desses países é muito baixo; 3) alguns chefes islamitas demonstraram um maior compromisso com a democracia do que os autocratas seculares que dominam a região; 4) a liberdade de expressão resgatada pela juventude do Facebook, e 5) a falência das ideologias. Fato é que pelas ruas dos países árabes, a mocidade repete até ao esgotamento as palavras "reforma" e "mudança".
Paulo Sertek, professor da FAE, doutor em Educação pela UFPR e autor dos livros: Responsabilidade Social e Competência Interpessoal; Empreendedorismo; e Administração e Planejamento Estratégico. E-mail:paulo-sertek@uol.com.br
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