O discurso histórico das universidades públicas e gratuitas está centrado no tripé: ensino (de graduação e pós-graduação) de qualidade, pesquisa com alto significado acadêmico ou tecnológico e extensão do conhecimento gerado em favor da sociedade. Para tal elenco concorrem os docentes de quatro categorias, teoricamente em ordem crescente de intensidade: assistentes, adjuntos, associados e titulares. Boa parte desta população acadêmica goza de afastamentos para cumprir mestrado e doutorado e uma menor parte logra o pós-doutorado. Cruamente, são interregnos de tempo elástico do qual o docente se vale para investir em si mesmo e no acréscimo de salário por conta destas qualificações de titulação.
A revista Plos Biology – fator de impacto (FI) 7,079 em 2019 (a mais bem cotada das revistas brasileiras, o Journal of Materials Research and Technology tem um FI de 3,398) – publicou em outubro de 2020, obedecendo claros e sérios critérios de avaliação dos trabalhos publicados o elenco mundial dos 100 mil mais importantes cientistas do planeta. Seiscentos deles são brasileiros (por vezes um estrangeiro que aqui se radicou) ou seja apenas 0,6% do total.
Surgiu então a curiosidade local a respeito de quanto as universidades públicas e privadas paranaenses tem arrojado nestas seis centenas de notáveis nacionais. O resultado é de apenas 20 cientistas ou seja 3,33% da fatia nacional global. A UFPR figura nesta lista paranaense com 10 cientistas, a UEM-Maringá com 5, a UTFPR com 2, a PUC-PR com 2 e a UEPG com 1. E é só, apesar de o estado do Paraná contar com 38 universidades, faculdades e instituto federal de educação.
Se nos fixarmos na maior e mais antiga universidade (com certeza no Paraná, mas a da Amazônia também advoga o título de mais antiga do país; a conferir as devidas atas de fundação), a UFPR conta com 2.243 docentes e certamente uma boa parte deles, mormente aqueles envolvidos com a pesquisa e orientação de futuros mestres e doutores, produzem e publicam pesquisas de qualidade. Infelizmente, não a nível de competir com aquelas publicações oriundas do MIT e Caltech para ficar apenas em dois exemplos de melhores universidades do mundo. Modestamente, pois, ficamos em 0,41% de notáveis na grande família UFPR. Isto se não se elevar algum clamor contra uma minoria das minorias a título de plágio que não se confunde com criptomnésia.
Tampouco surpreende que na cotação do Times High Education as duas melhores universidades brasileiras, USP e Unicamp se situem, respectivamente, em alguma posição entre 201 e 250 e 401-500. Nossa UFPR, além, muito mais além, em alguma posição acima de mil.
Mais agora do que nunca em que a mídia privilegia a atividade militante na escolha comunitária de reitores e a maré contra quem o presidente da república efetivamente nomeia, é hora de cada pró-reitor de pós-graduação organizar a plateia virtual dos docentes-pesquisadores dos numerosos cursos de pós-graduação de cada casa universitária e injetar ânimo redobrado na direção do investimento em pesquisas bem qualificadas, planejadas e executadas e os frutos daí esperados: publicações em revistas que detenham o grau Qualis A da Capes. Esta é, em verdade, a única moeda de valor corrente com a qual a universidade alavanca sua reputação e o aval financeiro para seus projetos. Aos profissionais diplomados cada pai e cada mãe vai atribuir sucesso em causa própria: inteligência herdada. Aos vestibulandos, apenas esperança.
Há uma outra moeda em voga cada vez mais crescente: o APC ou Article Publication Cost. Isto mesmo : o cientista ou seu projeto de pesquisa custeado pelo CNPq, Capes ou Fundação Araucária paga a cada artigo ou capítulo de livro que publica. Algo, por exemplo, na casa dos US$ 500. Em contrapartida, a editora recipiente, se o artigo supera a etapa de avaliação interpares (em inglês: peer review), ela o publica na base de OAB, OAC ou OAA (Open Access Book, Chapter ou Article) ou seja, um clique no teclado via Internet e leitura e gravação totalmente gratuitos estão prontamente à disposição. Destarte todos ganham, principalmente os estudantes e professores. Destarte, o gasto por conta de alguma financiadora federal ou estadual se converte, ipso facto, em investimento cultural ou tecnológico.
E o afluxo de leitores a estes portais de acesso grátis é volumoso. Dois exemplos da lavra do articulista “Phosphoric acid as a gentle próton donor” e “Sugar versatility”, publicados pela maior editora de OAs do mundo, a Intechopen, já contam com 1.015 e 350 acessos (downloads). Não se trata de empresa editorial ianque, inglesa ou francesa: é croata! É a tendência para a qual estão se encaminhando as grandes editoras de papers e conexos no mundo todo.
José Domingos Fontana é professor emérito e luminar da pesquisa na UFPR; citado na publicação da “Plos One”.
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