| Foto: Pixabay

Recentemente, casos de vazamento de informações têm gerado grande repercussão. Descobriu-se, por exemplo, uma base de dados que continha, virtualmente, informações de toda população do Equador (do presidente às crianças). Também, há pouco, ficou pública a prática das gigantes de tecnologia de terceirizar a análise de conversas “captadas” por assistentes eletrônicas com empresas terceiras. Tudo isso, sem ignorar o provável uso de dados de usuários do Facebook para influenciar os resultados das eleições nos Estados Unidos.

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O “medo” das pessoas e dos governos pelo suposto fim da privacidade é tão grande que se iniciou uma corrida, em todo o mundo, para criar e aprovar leis que coloquem algum controle sobre a forma como os dados são coletados, armazenados e utilizados pela companhias. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (13.709/2018), também conhecida como LGPD, tornou-se agenda de discussão para executivos de empresas de todos os portes. Na União Europeia, a legislação recém aprovada também tem causado mais dúvidas do que certezas.

O estranho dessa “preocupação com a privacidade” é o conflito entre o que queremos e o que praticamos

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O estranho dessa “preocupação com a privacidade” é o conflito entre o que queremos e o que praticamos. É fato que, diariamente, fornecemos de forma espontânea dados sobre nossos hábitos de consumo e lazer. Voluntariamente, compartilhamos fotos dos lugares que visitamos, de nossos vínculos afetivos, das bebidas que consumimos, dos eventos marcantes de nossas vidas etc. Até mesmo no supermercado “identificamos” nossa compra com o registro do CPF em troca de poucos benefícios. O aplicativo de transporte também sabe para onde vamos, quando vamos e quanto estamos dispostos a investir para o conforto. A companhia aérea também sabe para onde viajamos, com quem e qual a duração de nossas férias. Os hotéis sabem onde nos hospedamos e que tipo de vista preferimos. Até mesmo aquele aplicativo de e-mail, se não analisa nossas mensagens, registra onde estamos. Beneficiamo-nos de dezenas de serviços gratuitos que pedem apenas nossos dados e esquecemos que, quando consumimos um produto gratuito, na prática, o produto somos nós.

Honestamente, acho inocente o raciocínio de que é possível colocar algum controle sobre o uso de nossos dados, principalmente, quando os fornecemos de forma tão natural em nossas rotinas. Chega a ser cômico assistir a sessões onde políticos mais velhos tentam interrogar executivos jovens (que de inocentes tem bem pouco) sobre o uso da ética. É ingênuo pensar que penalidades podem pôr freio ao “progresso”, afinal, as multas teriam de ser astronômicas para remover as vantagens econômicas do uso da informação que, aliás, concordamos em contrato fornecer gentilmente.

Estamos vivendo uma época de qualificação do marketing – que já foi de massa e agora é individual. O uso da informação e o controle das redes é a base estratégica deste século (bem a frente das recomendações de hoje feitas para empresas de ontem, dadas por algumas consultorias).

De forma alguma, estou defendendo o afrouxamento dos dados confidenciais. Não estou fazendo apologia à prática do amadorismo remunerado que permite o vazamento de dados sensíveis. Entretanto, estou reconhecendo que é muito difícil que, em tempos de “big data”, esses mesmos dados não sejam utilizados em práticas criativas com vistas ao ganho econômico. Pode ser que eu esteja sendo demasiado pessimista. Mas, entendo que a batalha pelo controle da informação está definitivamente perdida. Talvez seja mais prático começarmos a nos preparar para tempos onde a informação é mesmo livre. Afinal, como já é reconhecido em dito popular, “a internet não esquece”. Talvez seja mais prático começarmos a vislumbrar alternativas para usar o fato de os dados serem livres e a nosso favor. Não é uma luta simples, mas, pelo menos, ainda dá para pensar que ela pode ser vencida.

Elemar Júnior é CEO da ExímiaCo.

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