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Opinião 1

A nova juventude

A Europa continua sob o fogo cerrado de uma crise sem precedentes. Os números do desemprego na Espanha, por exemplo, são assustadores. Dados divulgados recentemente apontam que 26% da população está sem trabalho, totalizando quase 6 milhões de pessoas. A Espanha vive uma fuga crescente de jovens talentos. Em um ano, a população entre 20 e 24 anos diminuiu em 100 mil pessoas. Entre 25 e 29 anos, a queda foi de 150 mil.

A juventude europeia não foi preparada para a adversidade. A frustração apresenta uma pesada fatura: violência, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas. A ausência de cenários compõe a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de contestação.

O quadro brasileiro é bem diferente. Felizmente. Temos inúmeros problemas (violência, drogas, corrupção, desigualdade, baixa qualidade da educação), mas somos um país de gente alegre, com capacidade de sonhar. Expectativa de futuro define a vida das pessoas e o rumo das sociedades. O nosso grande capital, o nosso diferencial, apesar do notável emagrecimento do perfil demográfico brasileiro, é o vigor da juventude. Uma moçada batalhadora, com vontade de acontecer e, ao contrário do que imaginam os pessimistas crônicos, sedenta de valores éticos, familiares e profissionais.

A juventude atual – não a desenhada por certa indústria cultural que vive isolada numa bolha ideológica – manifesta uma procura de firmeza moral, de valores familiares e religiosos. Deus, família, fidelidade, trabalho, realidades tidas como anacrônicas nas últimas décadas, são valores claramente em alta. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), encontro do Papa com os jovens, em julho deste ano, no Rio de Janeiro, vai surpreender muita gente. Espera-se mais de 2 milhões de jovens de todos os continentes. É muito mais que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos juntos.

A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Os jovens, em inúmeras pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões. No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável, vai se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento transitório. Agora, o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças na mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.

Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam "na excelência e no mérito como forma de se fazer revolução". O pensamento divergente é valorizado. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento.

Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (Iics, www.iics.edu.br).

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