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Uma vez decidida a instalação da CPI do Apagão Aéreo na Câmara, tudo o mais são detalhes no encaixe da obviedade ou especulações no saco sem fundo da inquietação.

A veneranda máxima ensina que CPIs são armas traiçoeiras: sabem-se como elas começam, mas não como acabam. Ou os caminhos, atalhos e desvios em que se embarafustam no longo trajeto parlamentar entre o início dos trabalhos e a votação do relatório final pelo plenário. Daí por diante é o mapa do imprevisível no interminável trajeto pelos labirintos da Justiça.

Mas a CPI do Apagão Aéreo chega de mansinho, peada pelas dúvidas sobre o seu destino. Acumula probabilidades de encher o oco do Congresso estigmatizado pelo índice desmoralizante de 1% de credibilidade da última pesquisa.

Claro, não é justo ancorar comparações com o sucesso retumbante de 2005 e 2006 das CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão, com o repique do escândalo das ambulâncias superfaturadas da Operação Sanguessuga. E os shows que entravam pela madrugada dos debates entre governistas encurralados e os oposicionistas com a corda toda, transmitidos ao vivo pelas redes de TV e as emissoras de rádio e torrencial cobertura da mídia. O final melancólico foi um tiro pela culatra: o Poder Legislativo em queda livre na frustração da opinião pública, entrou em parafuso com os desatinos éticos dos acertos entre partidos na base da barganha de votos para emplacar a impunidade dos parlamentares denunciados pelas comissões de inquérito.

Ecos de um passado que ainda ressoam na resistência do baixo clero e da quase unanimidade das duas Casas às tímidas tentativas de moralização da penca de ouro das vantagens, mordomias, benefícios que engordam os subsídios à obesidade de um dos melhores empregos do mundo. O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, pagou com juros a meia-volta às elementares medidas disciplinares que tentou adotar – como exigir o comparecimento às sessões das segundas-feiras, sob pena do corte do jetom e fiscalizar o ressarcimento das despesas de suas excelências nos fins de semana, bancadas pela indefensável verba indenizatória.

Ora, estamos com eleições à distância de menos de dois anos para prefeitos e vereadores, em 2008. Numerosos deputados federais são candidatos ou estão de olho nas prévias, com influência decisiva no fortalecimento de suas bases para a megacampanha da sucessão presidencial, de governadores e parlamentares, em 2010.

A briga de foice e navalha pelas vagas na CPI da Câmara, que assanha as bancadas do governo e da oposição, é absolutamente normal. Como não há o que se estranhar na mobilização do esquema situacionista para comandar as indicações dos seus representantes no espetáculo programado, ainda sem dia para começar.

No tom melodioso do chorinho brasileiro, sem a gritaria dos dós de peito das óperas, a CPI do Apagão Aéreo merecerá a cobertura competente da mídia na medida dos seus avanços objetivos do que apurar sobre o que continua coberto pelo silêncio suspeito: as razões e responsabilidades pelo sucateamento do controle aéreo, que pipocou no inferno a que foram submetidos os usuários em dias e noites de espera nos aeroportos.

As verbas orçamentárias eram insuficientes ou foram reduzidas pelos cortes da demagogia? É indispensável abrir a caixa-preta da contradição: dinheiro a rodo para as obras com manchas suspeitas para a reforma e construção de aeroportos e migalhas para a atualização do controle aéreo.

É por aí o caminho de uma investigação séria, objetiva e sem espalhafato. E previsíveis as suas conseqüências políticas e eleitorais.

Sobra algum para a caiação do Congresso, a clamar por uma faxina em regra.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.

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