Mais do que discussão, os países precisam olhar para a crise na Europa como algo não longe da sua janela e com cautela e responsabilidade pensarem em ações concretas urgentes

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Na última reunião do G20, em Cannes, na França, o tema central continuou sendo a crise das economias da zona do euro e a discussão sobre a viabilidade da ajuda por parte dos países emergentes. Os dados sobre a economia desses países continuam alarmantes. Conforme relatório da Comissão Europeia, não há perspectiva de melhora no emprego nem nos investimentos das empresas, o consumo continua em queda e os bancos estão reduzindo seus empréstimos, ou seja, recessão à vista no ano que vem. E uma vez que o mundo dificilmente escapará ileso da recessão europeia, resta discutir a ajuda financeira.

A Europa continua pedindo socorro ao mundo. O mundo segue discutindo a ajuda à Europa. Dentre as medidas apontadas como necessárias para o lado dos países desenvolvidos, afirma o economista Nouriel Roubini (famoso por prever a crise mundial de 2008), que a única forma de evitar a catástrofe econômica é o Banco Central Europeu comprar os títulos dos países em dificuldade, reduzir a taxa de juros para 0% na zona do euro e desvalorizar a moeda. Porém, o próprio BCE e o governo da Alemanha são contra, pois tal ajuda afetaria os tratados da União Europeia. Aliado às incertezas econômicas, ainda permanecem as questões políticas, com a sucessão dos primeiros-ministros na Grécia e na Itália. Na Grécia, o físico, economista e ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, Lucas Papademos, que ficará no cargo até as eleições previstas para fevereiro, e na Itália, o também economista e ex-comissário europeu Mario Monti, tem pela frente o desafio de implantar mais medidas de austeridade fiscal, via cortes de salários, aumento de impostos e privatizações em troca de mais empréstimos, porém, com maior descontentamento da população.

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Do lado dos emergentes, o Brasil afirmou na reunião que está disposto a contribuir com recursos para o FMI, mas não diretamente para o Fundo de Estabilização Europeu, decepcionando as expectativas de líderes europeus. Como disse a presidente Dilma Rousseff "dinheiro brasileiro de reserva é dinheiro que você protege, não pode ser dado assim, de qualquer maneira". Em contrapartida, fortaleceu-se a reivindicação já apresentada em reuniões anteriores do Grupo de incluir as moedas de economias emergentes, como Brasil e China nos Direitos Especiais de Saque (SDR, sigla em inglês), espécie de moeda do FMI, que pode ser utilizada na ajuda aos países em situação econômica desesperadora. Por enquanto, ficou definido apenas a possibilidade de emissão de mais SDR da forma como hoje está estruturado (dólar americano, iene, libra esterlina e o euro) para injeção no Fundo de Estabilização Europeia, que ainda não alcançou o montante necessário à ajuda dos países em piores condições: 1 trilhão de euros!

Contudo, muitas perguntas permaneceram sem respostas: quem vai contribuir? Com quanto? Quando efetivamente começarão os aportes ao FMI? O fato é que a reunião passou e nada de concreto ficou acertado. A própria presidente Dilma Rousseff afirmou que não acredita que em uma reunião se resolvam os problemas do mundo. Mas se não se consegue resolvê-los em reuniões, urge que se faça em ações práticas imediatas. Se parte do mundo não tem crescimento econômico, não há consumo, não há demanda por importações e o resto do mundo provavelmente também crescerá menos.

Resta aguardar as cenas dos próximos capítulos, a próxima reunião do G20, marcada para dezembro. Dezembro, mês de Natal, só falta esperar que Papai Noel ajude!

Cintia Rubim de Souza Netto, doutora em Economia, é professora do Curso de Relações Internacionais e Supervisora do Núcleo de Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Curitiba – Unicuritiba.