| Foto: Valterci Santos/Arquivo Gazeta do Povo

A melhoria da saúde e da qualidade de vida em um paciente que perdeu peso é evidente. Além dos benefícios para a saúde, os pacientes que perdem peso retomam a sua autoestima, já que a obesidade leva o indivíduo à exclusão social e poucas são as ações de inclusão voltadas para uma pessoa obesa. O mundo moderno não contemplava a presença de tantos obesos e não se preparou para tal.

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Uma das alternativas para curar a obesidade é a cirurgia bariátrica. Mas será que, financeiramente, vale a pena fazê-la? As estatísticas dos cirurgiões quanto aos resultados da cirurgia bariátrica impressionam: cerca de 90% dos pacientes operados obtêm uma melhora da hipertensão arterial ou da diabetes mellitus do tipo 2. Uma das mais consagradas revistas científicas da área médica, a Jama, publicou um estudo que comprova também a melhoria das condições econômicas dos pacientes operados após a cirurgia bariátrica e avaliou a efetividade do custo de se realizar esse tipo de cirurgia em adolescentes portadores de obesidade mórbida. Após o terceiro ano de operado, de acordo com o estudo, passaram a ser contabilizados benefícios financeiros com a perda de peso.

A Região Sul concentra o maior número de jovens obesos do Brasil

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Isso porque em suas atividades diárias de deslocamento, vestuário e alimentação, entre outras, os obesos têm gastos mais elevados que os de uma pessoa com o peso ideal. As companhias aéreas, por exemplo, já comprovaram o impacto dos quilos extras na conta do querosene. De acordo com artigo de Beth Blair, da BBC, “existe uma controversa ideia de cobrar mais de passageiros obesos em viagens aéreas e muitas companhias aéreas responderam à crescente epidemia de obesidade apenas insistindo para que passageiros com sobrepeso comprem dois assentos para garantir sua segurança e conforto”.

Ainda de acordo com este mesmo estudo da Jama o custo-benefício da cirurgia bariátrica em adolescentes com obesidade mórbida ressalta a necessidade e a importância de ensaios clínicos de longo prazo com pelo menos cinco anos de prosseguimento. O estudo comparou adolescentes tratados sem cirurgia e outros tratados com cirurgia. O grupo submetido à cirurgia, inicialmente por causa do risco do procedimento, apresentava mais morbidade. No entanto, com o passar do tempo e a perda de peso, os pacientes operados apresentaram melhora nas doenças associadas à obesidade. Já o grupo que não foi tratado com cirurgia começou a apresentar um custo efetivo muito maior, já precisava tratar as doenças associadas decorrentes do excesso de peso.

Atualmente, nos Estados Unidos, mil adolescentes são operados em média por ano e esse número só aumenta. O custo total atribuído à obesidade nos EUA, em 2014, foi tema de um congresso. O Instituto Milken lançou uma análise econômica rígida sobre os custos da obesidade não tratada. O levantamento apontou que a obesidade custa, à economia dos EUA, US$ 1,4 trilhão. Tais custos vêm quase inteiramente das complicações que resultam quando a obesidade não é tratada e progride para outras doenças associadas. O dinheiro gasto em cuidados médicos baseados em evidências para tratar a obesidade em si é insignificante em comparação aos US$ 64 bilhões gastos diretamente pelo paciente em produtos para perda de peso e dieta, que têm pouco impacto no logo prazo.

O mesmo acontece no Brasil. Os custos com as doenças associadas à obesidade sobrecarregam o sistema público de saúde e custam R$ 488 milhões todos os anos aos cofres públicos, de acordo com o Ministério da Saúde. Dados divulgados pela pasta indicam que 25% desse valor destina-se a pacientes com obesidade mórbida, que, segundo o ministério, custam cerca de 60 vezes mais que uma pessoa obesa sem gravidade.

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E os custos com a obesidade não param por aí. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já disparou o alerta vermelho da obesidade infantil, que atingiu nos últimos anos níveis preocupantes, ameaçando a saúde das crianças e reduzindo a estimativa de vida. Para se ter uma ideia, em 2014 o número de crianças obesas em todo o mundo era de 41 milhões – 10 milhões a mais que no início da década de 90. A última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já apontou que a Região Sul concentra o maior número de jovens obesos do Brasil, com 10,2% dos jovens diagnosticados como obesos e 28,2% dos jovens com excesso de peso.

Então, é possível dizer que estamos diante de uma doença que tem um custo alto para o indivíduo e para a sociedade. E, de fato, quem se lembra de já ter visto andando na rua um obeso mórbido na terceira idade?

João Caetano Marchesini, médico e cirurgião bariátrico, é presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).