Já se disse que ópera é o “espetáculo total”; unindo música, canto, literatura, cenografia, atuação, balé e até mesmo filosofia na forma de representação de um drama ou comédia. Nascida no fim do século 16 em Florença, como releitura de tragédias gregas encenadas com o uso de recursos musicais, o termo “ópera” (italiano para “obra”) passou, em seguida, a ser o nome genérico do teatro musical, em que o texto é falado ou cantado com acompanhamento musical.
Há uma certa visão de que este seria um gênero de arte ultrapassado e apreciado apenas por esnobes. Nada mais longe da realidade: não chegando ao extremo do que ocorre na Itália – onde multidões de todas as classes sociais superlotam os teatros e cantam com o coro, aplaudem com entusiasmo bons desempenhos e vaiam impiedosamente qualquer deslize –, a ópera está viva, cada vez mais viva. Está até mesmo em nossa memória auditiva e afetiva: não é raro nos surpreendermos a trautear trechos de árias que nem sabíamos conhecer, pois sempre os ouvimos não identificados, em filmes ou como base da melodia de canções populares.
Queremos mais. Um, dois, três, mil festivais de ópera, de música, de poesia, de teatro, de cinema
Curitiba assistiu ao II Festival de Ópera do Paraná, evento no qual se esperava que, nas palavras de seu diretor geral, Gehad Hajar, “as produções e emoções oferecidas contemplem e elevem ainda mais o espírito artístico e humano”. Quase 350 pessoas trabalharam, vindas de quatro países: diretores, produtores, cantores, músicos, atores, maquinistas, iluminadores e todos aqueles sem os quais o espetáculo não acontece, ou acontece com menor brilho. O público movimentado chegou perto de 7 mil pessoas, espectadores e também participantes. Os espetáculos não permitiram a passividade das plateias: encantaram, seduziram, comoveram, divertiram, provocaram, realizaram, enfim, o objetivo da arte: instigar e emocionar.
A programação constou de 11 espetáculos, entre óperas, musicais e concertos, apresentados em auditórios do Teatro Guaíra, salas como a Capela Santa Maria, a Casa Heitor Stockler ou o Paço da Liberdade, e até mesmo na rua. Foram realizadas algumas apresentações do tipo flash mob, em que grupos de pessoas marcam encontro pelas redes sociais em determinado lugar e, inesperadamente para os demais presentes, executam alguma performance de canto, dança ou representação. Houve evento desse tipo até dentro de um ônibus. Provocar, divertir, surpreender... sempre.
E, em vista dos preços estratosféricos dos ingressos de espetáculos menos elaborados, e geralmente mais patrocinados, foi surpreendente constatar que as entradas tiveram tarifas módicas e em muitos casos nem sequer foram cobradas, na salutar tradição de permitir o acesso do pessoal “do sereno” como convidado. Esta é a verdadeira finalidade do teatro público e do patrocínio público: proporcionar espetáculos de alta qualidade a preços acessíveis.
Eruditos e pessoas do povo foram todos bem-vindos, pois eventos desse tipo mostram uma verdade conhecida, mas às vezes esquecida: há público e interesse para atividades culturais de bom nível. O preconceito de que jovens não se interessariam por cultura e espetáculos de bom padrão é falho e falso; basta existir oferta que haverá demanda. Os jovens estão vivos, escrevem poesia, compõem música, discutem filosofia, pintam, leem bons e nem tão bons livros, fazem teatro, curtem quadrinhos, querem fazer cinema, cantam, dançam. Merecem mais do Estado, merecem mais de todos nós.
À Secretaria de Estado da Cultura, Teatro Guaíra, Guairacá Cultural e todos os apoiadores públicos e privados, que com sensibilidade nos propiciam tão belos espetáculos, organizados, dirigidos, interpretados e cantados por pessoas tão talentosas, dizemos: queremos mais. Um, dois, três, mil festivais de ópera, de música, de poesia, de teatro, de cinema. De vida.
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