A recente declaração do governador, durante entrevista ao Jornal da RPC, sobre a privatização da Celepar, trouxe à tona um debate intenso. Segundo ele, a desestatização da empresa pública resultaria em uma economia de R$ 19 milhões anuais, principalmente com a extinção de 40 cargos comissionados. No entanto, a justificativa não convenceu e gerou uma onda de críticas, apontando contradições e possíveis interesses políticos por trás da medida.
Especialistas e servidores questionaram os dados apresentados. Informações de outras fontes sugerem que o valor gasto é ainda maior, cerca de R$ 26 milhões, e essa economia pode ser alcançada imediatamente. Bastaria extinguir os cargos comissionados criados e mantidos pela própria gestão atual. Esses postos, segundo o Portal da Transparência, foram ocupados por apadrinhados políticos, nomeados diretamente por secretários do governo, e não por servidores técnicos da empresa.
A Celepar, ao longo de seis décadas, tornou-se um símbolo de inovação e eficiência no setor público do Paraná. Diversos especialistas defendem que, em vez de desestatização, a empresa deveria ser fortalecida com investimentos e despolitização de sua gestão
A Celepar, uma referência nacional em tecnologia da informação, conta com um quadro técnico especializado, composto majoritariamente por concursados. No entanto, a gestão atual privilegiou nomeações externas, muitas vezes sem perfil técnico adequado, o que gerou insatisfação interna. Representantes dos funcionários alertaram que essas escolhas não apenas comprometem a eficiência da companhia, mas também corroem sua credibilidade.
Com isso, cremos que o discurso de economia do governador é falacioso. Os cargos comissionados foram criados por ele mesmo. Privatizar a Celepar não é necessário para acabar com essa despesa; basta extinguir as nomeações políticas e valorizar os funcionários de carreira. As críticas vão além do discurso econômico. Durante a atual gestão, os salários de alguns comissionados chegaram a triplicar, com vencimentos médios 2,5 vezes superiores aos dos servidores de carreira, muitos com décadas de experiência técnica. Estima-se que, em oito anos, os custos acumulados com esses cargos ultrapassem R$ 200 milhões – valor que poderia ter sido investido na melhoria da companhia ou revertido em serviços públicos essenciais, como saúde e educação.
A Celepar, ao longo de seis décadas, tornou-se um símbolo de inovação e eficiência no setor público do Paraná. Diversos especialistas defendem que, em vez de desestatização, a empresa deveria ser fortalecida com investimentos e despolitização de sua gestão. A criação de uma nova Secretaria da Inovação, em 2023, sem a realização de concursos para preenchimento de seu quadro técnico, reforça as suspeitas de que a privatização estava nos planos do governo há tempos, e os cargos comissionados da Celepar poderiam ir para lá. Privatizar a Celepar é desmontar décadas de trabalho, comprometendo um patrimônio público que é autossustentável e vital para o Paraná. O descomissionamento e a valorização do corpo técnico seriam medidas mais sensatas e justas.
O momento escolhido para propor a privatização – a poucos meses do fim da gestão – levanta dúvidas sobre as reais intenções do governo. A Celepar, mais do que uma empresa, é um símbolo de orgulho para os paranaenses. Decisões apressadas podem comprometer não apenas seu legado, mas também sua contribuição futura para o estado.
A discussão sobre a privatização da Celepar transcende questões econômicas. Trata-se de uma decisão que impactará diretamente o modelo de gestão pública no Paraná e, sobretudo, o acesso da população a serviços inovadores e de qualidade. O povo paranaense merece mais do que justificativas frágeis e decisões que priorizem interesses políticos em detrimento do bem comum.
Paulo Falcão é advogado do Comite de Funcionários contra a Privatização da Celepar.
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