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O camaleão, para se defender de seus predadores, muda de cor. Mas sua alma é sempre a mesma. Continua camaleão, sem nenhuma alteração de comportamento e de natureza.

No Brasil, os partidos mudam de nome. Tal como os camaleões, não mudam de alma. Não mudam o comportamento, a prática e a ideologia política.

Os partidos mudam os nomes e os políticos mudam de partidos, cada qual buscando sua acomodação e sobrevivência na densa e selvagem mata da política brasileira. Ou melhor, na densa e selvagem prática de clientelismo e fisiologismo da política brasileira.

Tudo pode, tudo é possível e tudo é feito para que, individualmente ou em pequenos grupos de interesses, não se perca poder. Ou, pelo menos, para que não se afaste tanto dele. É assim e, enquanto não houver uma reforma política e mudança da cultura política brasileira, continuará sendo. Não se trata de uma visão pessimista da política brasileira, mas o algo que tenho constatado e vivenciado nas últimas décadas.

Nesse contexto histórico, "o que os eleitores podem esperar da legislatura que começa agora?" Muito pouco. A legislatura que ora se inicia é resultado das últimas eleições, nas quais mais uma vez, infelizmente, valeu quase tudo: abuso do poder econômico, falta de coerência nas coligações partidárias, ausência de debate ideológico.

Em alguns estados, houve coligações com mais de dez partidos. Na Paraíba, foi registrada uma com nada menos que 16 siglas diferentes. Que resultados ideológicos e programáticos podem oferecer os chamados "chapões"? No mínimo, revelam incoerência. É com essa incoerência que se inicia a nova legislatura da Câmara dos Deputados.

A falta de compromisso político – infelizmente, de todos os partidos, uns mais outros menos – com a nação e seu povo leva ao parlamento nacional um grande grupo de parlamentares cujo exercício do mandato basta em si próprio. Ou seja, os mandatos têm caráter apenas pessoal.

Mesmo com a "renovação" de cerca de metade dos parlamentares, pouco ou nada se altera, porque a "renovação" é falsa. Muitos dos "novos" deputados lá já estiveram e retornam agora. Outros "novos" chegam com velhas práticas.

Alteração profunda só irá ocorrer se tivermos várias mudanças, três delas fundamentais: reforma política, mudança na cultura do eleitor e uma maior e melhor atuação do Poder Judiciário. As três devem ocorrer simultaneamente.

Fazer uma ampla e profunda reforma política, que contemple, entre outros, os seguintes temas: mesma proporcionalidade na representação dos estados (hoje o Norte e o Nordeste têm representatividade maior); dar ao Senado o verdadeiro papel que lhe cabe numa Federação (atualmente aquela Casa extrapola o seu poder); estabelecer alianças e coligações nacionais; financiamento público de campanha; fidelidade partidária; garantir que, em grandes temas, seja viabilizada a participação popular através de plebiscitos ou referendos.

Uma reforma desse porte só será possível com o debate e a participação da sociedade civil organizada. É urgente a necessidade de se construir uma nova cultura política no país, através da qual o cidadão compreenda que as transformações só serão feitas por suas mãos, e que os parlamentares não são nada mais que seus representantes.

Sou pessimista em relação à atual Câmara Federal porque não acredito que a participação da sociedade vá se dar como realmente seria necessário. Sem essa participação, qualquer reforma política será pífia, de aparências. Permitirá que os camaleões da política sobrevivam. Dr. Rosinha é médico pediatra e deputado federal (PT-PR). dr.rosinha@terra.com.br

www.drrosinha.com.br

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