Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

A política por trás do protecionismo

 | Marcos Tavares/Thapcom
(Foto: Marcos Tavares/Thapcom)

Fala-se bastante das péssimas consequências econômicas do protecionismo. Na literatura acadêmica, este é um consenso praticamente unanime – são 92% dos economistas, segundo uma pesquisa da Universidade de Chicago; com exceção da Cepal, até mesmo os keynesianos concordam que o livre comércio é uma das maiores alavancas do crescimento. Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil é a segunda economia mais fechada do planeta Terra, atrás do Sudão do Sul. A lista de produtos cuja importação é proibida é ridícula; pensemos, por exemplo, nos carros usados. No âmbito do Mercosul, a lista de exceções é maior que a lista de produtos que podem ser comercializados livremente. A eficiência da Receita Federal e da nossa alfândega é incrível: praticamente tudo fica parado. As tarifas de importação são altíssimas e, consequentemente, os preços dos importados são absurdos, a ponto de o termo “importado” já ser sinônimo de mais caro, não necessariamente de melhor! Nem é preciso dizer que nos países abertos não é assim.

Mas pouco se fala dos motivos políticos que geram o protecionismo e que o sustentam no tempo. Por que alguns países são fechados e outros são abertos? Quais os fatores correlatos? Quais as causas?

Países com economia pouco diversificada tendem a ser fechados

Uma das correlações mais fortes com fechamento é o tamanho do país: nações grandes tendem a ser fechadas. Elas podem postergar a necessidade de abertura, pois têm um mercado grande. É o caso de China, Brasil, Estados Unidos e União Europeia (considerada como um todo). Isso não significa que eram fechados quando eram pobres, e nem que ficaram ricos desta forma. A Open Economy Politics nota que países com economia pouco diversificada tendem a ser fechados porque a abertura teria efeito muito grande sobre alguns poucos setores e, portanto, há muita pressão contrária. Este é, de fato, o fator principal.

Em termos econômicos, o protecionismo é uma transferência de bem-estar do consumidor para o produtor, e dos produtores estrangeiros aos produtores nacionais, o enésimo caso de custos difusos e benefícios concentrados. Um paper de Mayer e Riezman mostra que redistribuições mais diretas seriam economicamente menos ineficientes. O problema é que, politicamente, elas são menos vantajosas exatamente porque seriam mais evidentes à opinião pública, como explica Stephen Magee.

O protecionismo nunca é horizontal; alguns setores são mais protegidos e outros menos. O Estado escolhe e escolhe os amigos do rei. É o famoso problema do “pick the winner”. Geralmente se opta pelas empresas menos eficientes, pois “agradecem” mais a mão que as alimenta. Os governos podem não ser muito bons para escolher os vencedores, mas os perdedores são ótimos para escolher os governos!

Há, então, um grande incentivo para que empresas e setores façam lobby em busca de benefícios. Se você não fizer, outros o farão! Quem se beneficia de tudo isso são grupos como: indústrias já instaladas no país (não necessariamente brasileiras); a Receita Federal (que tem mais poder de barganha); fiscais de portos e aeroportos (que têm mais poder de barganha e mais discricionariedade); órgãos de fomento às exportações (em países protecionistas, é comum o discurso de que exportar é bom, importar é ruim); a Zona Franca de Manaus (que perderia a razão de existir se o país fosse aberto). Os setores automotivo, alimentício e de vestuário, só em 2015, receberam R$ 37,5 bilhões de subsídios indiretos! Não por acaso, quem de fato pressiona o governo são sindicatos, sindicatos patronais, associações de categoria como a Abimaq, indústrias automotivas, montadoras etc. Políticos e burocratas não são vítimas deste processo; eles competem entre si para obter apoio destes grupos. É uma parceria. Recentemente, por exemplo, o lobismo impediu que o governo reduzisse o imposto de importação sobre bens de informática, telecomunicação, máquinas e equipamentos de 14% para 4%.

A Nova Zelândia já foi um dos países mais fechados do mundo: para poder importar um televisor, era obrigatório fazer engenharia reversa e o custo ia para as estrelas; até para poder comprar livros do exterior era preciso ter autorização do Estado! Mas o país se abriu ao mundo e o PIB decolou. Hoje os agricultores não são mais protegidos, não têm garantias estatais; mesmo assim, a produtividade disparou, os produtores ganharam mercados no exterior e lucram bem mais que antes. O lobismo e o corporativismo lá foram vencidos. É possível, mas primeiro é necessário entender as causas.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.