A corrupção no Brasil é responsável por um desvio anual de mais de 200 bilhões de reais.| Foto: Policia Federal/Divulgação
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O Brasil é um país com muitos desafios, começamos com a saúde ou a falta dela, pois a ineficiência do sistema atual ocupa a 43ª posição no ranking mundial, ou seja, não consegue captar a distância entre as realidades públicas e privadas. Uma breve visita aos hospitais públicos é capaz de denunciar como muitos pacientes sobrevivem em condições desumanas, bem como os médicos também precisam se transformar em verdadeiros malabaristas para fazer atendimentos sem materiais ou infraestrutura.

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Outra enorme tristeza são nossos índices de educação, a 36ª posição mundial pode facilmente explicar todos os outros problemas. Como na saúde, se neutralizamos a contribuição das instituições privadas, estaríamos bem piores no ranking. Ou seja, ao menos metade da população é impactada. Também, vivenciamos uma pandemia de produtos contrabandeados e contrafeitos, oculta para muitos, que não só arriscam a saúde da sociedade com remédios roubados, ou pior falsificados.

A polarização, desigualdade social, pobreza, desemprego e a fome renderiam por si só um artigo por tema. Nossa liberdade de expressão e a pratica do bom jornalismo vivem a beira de um conflito social violento. E claro, a eficiência do gasto público além de estar se deteriorando, está entre as piores em um grupo de 100 países.

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Com tudo isso, a pergunta que fica é: sobre o que afinal, são essas eleições? Há um antigo ditado que diz “escolha suas batalhas”, e de fato devemos escolhê-las bem, pois se lutarmos por tudo, provavelmente ficaremos sem nada. A pressão sobre o que priorizar tornou-se enorme. Chegamos ao momento que para definir um tópico, que todos nós, independente do gênero, da classe social, se é de esquerda, direita, centro, religioso ou laico ou mesmo sua etnia, precisaremos encontrar o ponto que nos une e que trará a vitória a todos.

Em meu entendimento, o combate à corrupção é o maior unificador desta nação. Temos umas das piores posições no ranking de corrupção mundial, que sinceramente nem vale a pena destacar, é uma vergonha. A corrupção atinge a todos sem exceção. Podemos ter uma das maiores arrecadações de impostos como porcentagem do PIB do mundo. Mas você sente o benefício? Acredita que são bem gastos?

Uma grande parcela dos candidatos tem uma agenda oculta de interesses. A versão que nos é mostrada em campanhas e debates conta exatamente o que queremos ouvir: mais segurança, saúde, educação e investimento no combate à pobreza e desigualdade, desburocratização e eficiência do Estado. Mas a agenda oculta, aquela a que não temos acesso, é voltado para o enriquecimento próprio. Não é por acaso que Brasília, mesmo sem um indústria relevante, tem o maior PIB per capita do Brasil. Em 2019 a capital federal fechou o ano acima da média nacional em 2,6 vezes, com mais de R$ 90 mil.

O combate à corrupção não só trata o problema da imoralidade como também é o alicerce para tudo que queremos melhorar no Brasil. Nós não conseguiremos melhorar nada no país enquanto governantes e políticos manterem em Brasília e todos os outros estados agendas ocultas voltadas a interesses pessoais.

A cada dez anos, o dinheiro desviado para fins de corrupção consome quase metade do PIB anual brasileiro. São trilhões de reais usados para pagar corruptos. Isso acontece porque o sistema público e político não funciona de forma inteligente e eficaz e também porque os corruptos insistem em usar estratagemas para desviar a atenção de suas falcatruas.

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O Brasil, com seu tamanho, recursos, uma única língua, sem desastres naturais como furacões, vulcões e terremotos, sem fronteira com países inimigos tem o potencial de ser um dos melhores lugares do mundo para se viver. Mas enquanto corruptos  enriquecem as nossas custas, vamos continuar na 84ª posição em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

A falta de uma narrativa unificada em torno do combate à corrupção tem legitimado ações como a do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem renegado todas as conquistas da Operação Lava Jato, reforçando a ideia de que o crime compensa e de que esse é o caminho que permite subir na sociedade.

Independente do que você acredita, exija o combate da corrupção como a prioridade nacional; cobre isso de seu candidato. Essa é uma batalha minha e sua, esta é a verdadeira batalha destas eleições.

 Daniel Grajwer é jornalista e economista pela universidade Haptuha de Israel.