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A prisão de Lula é, sim, algo bom

 | Miguel Schincariol/AFP
(Foto: Miguel Schincariol/AFP)

Reconhecer a prisão de Lula como algo bom não é o mesmo que celebrar o mal de alguém, mas sim manifestar a satisfação de ver as instituições funcionarem e a Justiça respirar. Claro que é lamentável ver um ex-presidente indo para a cadeia, mas é ainda mais vergonhoso ter tido no comando da nação um homem que elevou a níveis nunca antes imaginados a promiscuidade política, o desprezo por qualquer senso de moralidade e a institucionalização dos mais variados tipos de corrupção. Um homem que, quando enfim vencido pela Justiça, se encheu de cachaça e explorou (no pior sentido da palavra) a morte de sua própria mulher para alongar o espetáculo de afronta à lei, que criou usando vítimas da ignorância como escudo.

Nosso país foi entregue a um esquema de poder que destruiu instituições e corrompeu o modus operandi de toda e qualquer relação pública e público-privada. Tudo isso com o objetivo de implantar sua agenda e se perpetuar no poder. No caminho, encher os bolsos passou a ser uma novidade conveniente.

O país com que sonho é um país em que a sociedade é dona do Estado e não o contrário

Um esquema que só acabou por um toque de sorte, eu diria. Sorte de termos resistido no início, quando se pretendeu a censura da mídia, quando se atentou contra o direito de o povo se defender com o uso de armas de fogo, quando um delator entregou esquemas de aparelhamento total do Legislativo, quando, posteriormente, outro golpe de sorte revelou o maior esquema de corrupção já visto no país e o juiz certo na hora certa tratou de proceder corretamente no seu ofício. Tivemos sorte quando ganhamos, por um voto, votações decisivas no Supremo – que, diga-se de passagem, quase acabou também aparelhado.

O país com que sonho é um país em que a sociedade é dona do Estado e não o contrário. Um país em que, por meio das instituições, ninguém, por mais querido, carismático ou poderoso que seja, possa se atrever a tomar do povo o que a ele pertence, usurpá-lo, e depois sair impune. A impunidade é a injustiça dos honestos, a injustiça da sociedade, do povo trabalhador.

Mundo afora vemos presidentes sendo presos. A primeira presidente mulher da Coreia do Sul foi condenada a 24 anos e está na prisão. O Peru prendeu três ex-presidentes – de direita, de centro e de esquerda – e está a caminho de prender o quarto, Pedro Pablo Kuczynski, que foi pego pela Lava Jato e renunciou após revelado um esquema de compra de votos para evitar sua cassação. Na África do Sul, Jacob Zuma renunciou por escândalos de corrupção e já está sentado no banco dos réus. Na França, Nicolas Sarkozy é investigado por diversas denúncias de corrupção envolvendo até mesmo o ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi. Deve ser, e provavelmente será, condenado.

Não é perseguição. É justiça. São instituições funcionando. É expurgo. A doença sai, o organismo vive.

E Lula, assim como Sérgio Cabral e tantos outros ex-poderosos, ainda tem muitas contas a prestar à Justiça. O sítio de Atibaia, a Operação Zelotes, o esquema da Petrobras, a denúncia dos caças suecos, e mais um tanto de processos em que já foi denunciado e, portanto, é réu, assim como qualquer outro cidadão seria.

Prender Lula “não vai acabar com a corrupção”, mas evitou o precedente de impunidade dos poderosos. O Brasil cresce na jornada para se tornar um país decente.

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