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Opinião 1

A privatização que não ousa dizer seu nome

A palavra "privatização" deve trazer azar para os políticos, como colocar um cocar índio para posar para uma foto, dizer a palavra "Macbeth" para um artista teatral ou convidar certas pessoas para cantar o hino nacional nas solenidades e festividades; é urucubaca na certa.

Só isso explica o horror que os governantes sentem quando se trata de anunciar a privatização de algum bem ou serviço. Não vem ao caso que os resultados até então alcançados pela gestão direta do poder público daquele negócio sejam pífios e que a administração das empresas ou autarquias estatais ligadas ao assunto seja infestada de cupinchagem, compadrio y otras cositas más. Falar em privatizar dá arrepios.

Dona Dilma privatizou três aeroportos que funcionam miseravelmente, arrecadou uma fortuna e readquiriu o direito de cobrar um padrão decente de serviços, coisa que não consegue fazer com essa patética Infraero, que transformou o ato de embarcar e desembarcar de um avião no Brasil em Via Dolorosa a ser percorrida pelos viajantes. Imediatamente, o governo anunciou que está projetando privatizar outros. Mas se esmera em piruetas verbais para explicar que não se trata de privatização e sim de concessão, etc. etc. etc.

Aqui em Curitiba, a Prefeitura Municipal pretende privatizar a Pedreira Paulo Leminski e o pomposamente denominado Parque Náutico. De imediato, surgem as vozes condenando a "privatização de espaços públicos" e acorrem políticos e burocratas para explicar que não se trata de privatizar, blá , blá , blá.

Acho isso risível. A grande maioria das privatizações feitas no Brasil a partir do governo Itamar Franco trouxe resultados altamente positivos. Telefones eram artigos de luxo e haviam se transformado, com o tempo, em bens de capital, que as pessoas compravam para alugar e viver de renda; hoje existem 250 milhões de linhas ativas de telefone celular no país. Companhias que eram ícones do industrialismo estatal, como a CSN, a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica de Tubarão, nunca pagaram dividendos minimamente aceitáveis ao Estado, seu dono – e, durante muito tempo, nem Imposto de Renda. Privatizadas, geraram milhares de empregos novos, multiplicaram seu valor patrimonial 50, 100 vezes e entregaram bilhões de reais a seus funcionários (como participação nos resultados) e aos governos (na forma de dividendos e tributos). Outras, como a Rede Ferroviária Federal, que se mantinham vivas à custa de subsídios e de injeções de capital estatal, sextuplicaram, decuplicaram seus investimentos depois de passarem para as mãos dos empresarios privados. E lembremo-nos de que a joia da coroa da indústria brasileira, a Embraer, estava praticamente quebrada quando foi privatizada; hoje é a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, empregando diretamente quatro vezes mais do que em seus momentos de agonia ainda em mãos do governo.

Sugiro que paremos com essa preocupação semântica e passemos a cobrar resultados e que guardemos a bandeira nacional para nos enrolarmos nela quando a questão realmente merecer. A privatização não é o amor que Oscar Wilde praticava com Lord Alfred Douglas e que não ousava dizer seu nome, nem estamos na era vitoriana. A privatização, quando bem conduzida, é a chave para devolver ao cidadão um padrão minimamente aceitável de serviços, do qual ele só se distanciou ao longo de nossa história.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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