Marx não era defensor do capitalismo, mas era seu melhor estudioso. Com sua análise, ele acabou ajudando o capitalismo a se reformar e esse sistema, ainda que não seja perfeito, se saiu melhor do que as alternativas
Karl Marx era melhor do que os marxistas. Pelo menos, ele sabia como funcionavam duas das principais questões econômicas: os preços e a produtividade. Ele tentou alertar seus seguidores para que não incorressem na estupidez de menosprezar essas duas variáveis na determinação do progresso material.
Para boa parte dos marxistas o alerta foi em vão. Para uns, o fanatismo os impediu de estudar o problema com os olhos da razão (a melhor definição de "fanatismo" é: paixão e adesão "cega" a uma doutrina, causa ou religião). Para outros, a ignorância não lhes permitiu entender qualquer raciocínio teoricamente mais elaborado.
Marx afirmou que somente era possível elevar o bem-estar médio de um povo se houvesse aumento da "produtividade", que é a relação entre as quantidades produzidas e a quantidade de trabalho usado na produção. Obtemos o "índice" de produtividade dividindo o total produzido pelo número de trabalhadores (ou pela quantidade de horas de trabalho humano).
Se a primeira condição para viabilizar o aumento do bem-estar é que a produção por trabalhador (produtividade) seja aumentada, a segunda é que o aumento de produção seja distribuído entre patrão e empregado de forma a aumentar a fatia do trabalhador.
O aumento da fatia atribuída ao trabalhador pode ocorrer mesmo que o salário continue o mesmo. Para tanto, é preciso que, justamente por causa do aumento da produtividade, os preços caiam. Ou seja, se você ganhar, no futuro, o mesmo salário que ganha hoje e os preços caírem 20%, o volume de bens e serviços que você pode comprar com sua renda será 25% maior.
Não se surpreenda com os porcentuais, eles estão certos. Se você comprava 100 bifes com R$ 1 mil (portanto a R$ 10 cada), caso o preço caia 20% e o bife passe a custar R$ 8, você comprará 125 bifes com os mesmos R$ 1 mil, isto é, 25% a mais. É possível ao proprietário de um frigorífico reduzir o preço do bife, sem reduzir o salário do empregado e sem reduzir seus lucros? Sim, é possível; desde que, com o mesmo número de horas trabalhadas, o frigorífico produza mais (isso é aumento de produtividade).
O espaço deste artigo não permite aprofundar a conversa, mas uma questão deve ser levantada: como pode o operário produzir mais por hora trabalhada? De duas formas: a) melhorando sua destreza (habilidades técnicas); b) usando máquinas mais modernas, mais baratas e mais rápidas (tecnologia). Já para o país como um todo, o aumento de produtividade depende de três coisas: a) aumentar o estoque de capital; b) fabricar máquinas melhores e mais eficientes; c) melhorar a qualificação do trabalhador.
Acontece que, para que os preços dos bens e serviços caiam, sem haver redução dos salários, três condições são necessárias: a) que haja competição entre os fabricantes; b) que o sistema competitivo de preços funcione; c) que não haja desempregados dispostos a aceitar salários menores. Aí é que entrava a preocupação de Marx com o excessivo crescimento populacional e com a educação insuficiente, o que o levou a cunhar a expressão "exército industrial de reserva", para se referir à multidão de desempregados à qual os capitalistas podiam recorrer para contratar operários pagando salários menores.
Marx não era defensor do capitalismo, mas era seu melhor estudioso. Com sua análise, ele acabou ajudando o capitalismo a se reformar e esse sistema, ainda que não seja perfeito, se saiu melhor do que as alternativas. O comunismo foi um competidor fraco, já que seus dois maiores resultados foram escassez de produção e abundância de sangue. Foi por essa razão que, como disse um pensador russo, "o comunismo não foi derrotado por seus adversários; mas por suas vítimas".
O leitor deve ter percebido que tudo passa por educação (a fim de qualificar as pessoas) e inovação (a fim de revolucionar e modernizar as máquinas). No fim das contas, o progresso material depende de "educação e pesquisa". As sociedades que entenderam isso e se dispuseram a investir dinheiro, tempo e paciência em seus sistemas educacionais conseguiram transpor a barreira da pobreza e alcançar bons padrões de bem-estar. As que não entenderam (nós entre elas) continuam amargando níveis sofríveis de desenvolvimento econômico e social.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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