O assunto mais importante da educação brasileira neste momento está passando praticamente despercebido do grande público: trata-se da gigantesca Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que, em centenas de páginas, descreve de forma pormenorizada quais os conteúdos das matérias que devem ser ministradas aos alunos da educação básica. Seu objetivo seria prover, como o próprio nome diz, um currículo comum a todo o país, abrangendo cerca de 60% do tempo dedicado ao ensino; os restantes 40% seriam dedicados a um currículo definido regionalmente, no âmbito do sistema estadual de ensino e das próprias escolas. Nesse processo, os pais de alunos têm uma participação reduzidíssima na definição dos conteúdos e, pior ainda, os próprios alunos não têm nem voz nem vez.
Esse caso serve para ilustrar o problema fundamental da educação, infelizmente quase não debatido nos dias atuais. Esse problema pode ser sintetizado nas seguintes perguntas: a quem compete educar? A quem compete definir o modo e o conteúdo da educação?
Educação e amor são absolutamente inseparáveis
Para responder a essas perguntas, é essencial entender o que significa realmente o termo “educação”, tão citado e tão pouco compreendido. Dito de forma extremamente sintética, a educação é a preparação da pessoa para atingir um estado de plenitude do uso de suas potencialidades, tendo em vista alguns padrões civilizatórios indispensáveis (obviamente, não se deseja que um psicopata tenha condições de realizar plenamente seu potencial...). Para a criança, a educação é a preparação para a vida adulta, para a maturidade, o que implica o adequado desenvolvimento de seus aspectos intelectuais, emocionais, morais e físicos, dentro de um contexto de participação cidadã na vida da comunidade e do Estado.
Pois bem. Quem, então, seria responsável por essa atividade fundamental, que não apenas alimenta o espírito das pessoas, mas também possibilita a perpetuação do patrimônio cultural humano? Em tempos de infindáveis demandas por direitos e garantias, a resposta pode soar surreal: a responsabilidade pela educação de determinada pessoa é primária e fundamentalmente dela mesma. É isso mesmo – impõe-se a cada pessoa o dever de se educar. Essa afirmativa não deveria provocar espanto, pois até intuitivamente sabemos que educação compulsória faz tanto sentido quanto alimentação compulsória; em regra, ela é simplesmente impossível e, nas raras situações em que isso se concretiza, trata-se de uma das mais graves violações da dignidade humana, pois quase sempre implica o uso de técnicas de manipulação mental e de lavagem cerebral.
Contra essa afirmativa (contundente, reconheço), pode-se levantar a seguinte objeção razoável: e as crianças? Elas não deveriam ser destinatárias de um processo educacional compulsório, já que não cabe a elas ainda decidir sobre sua própria vida? A resposta a essa objeção é complexa, mas vou tentar resumi-la: as crianças devem ter, antes de tudo, um ambiente propício à sua própria educação. Esse ambiente deve incluir não apenas os estímulos intelectuais necessários para que a criança queira absorver conhecimento, mas principalmente deve ter os exemplos de atitudes fundamentais perante a vida, que somente podem ser adequadamente transmitidos por meio do amor. Educação e amor são, assim, absolutamente inseparáveis; educa-se por meio do amor e para que a pessoa finalmente possa amar e desejar o bom, o belo e o justo. E isso é que justifica a existência da única instituição capaz de verdadeiramente educar: a família.