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Segunda-feira, 2 de novembro, é o dia de Finados. Já vimos os meios de comunicação a apresentar suas projeções meteorológicas, de modo a organizar horários e saídas para o feriadão; os noticiários já mostraram as estradas congestionadas; os comerciantes de flores estão mobilizados para as melhores vendas. Os que não se retiraram para descanso, muitos deles, farão uma visita a algum cemitério. É esta a dinâmica destes dias. Para o próximo feriadão haverá novos engarrafamentos nas rodovias, novos comércios, novos consumos.

Mas, na nossa interioridade, a um passo dos nossos desejos, se quisermos ouvir, o dia de Finados sugere uma pergunta que, vez por outra, deixa fortes ecos. A própria palavra “finado” é um adjetivo decorrente do verbo finar, isto é, chegar ao fim. E este é um tema que poucos gostam de abordar. São poucos os filósofos que o analisam. A arte também se esquiva. Afinal, é um assunto que mais desespera do que inspira. As ciências chegam apenas até o seu limiar. Depois silenciam. Mesmo assim, ela, a morte, é a maior certeza da vida. E a cada dia que passa mais ela nos procura...

Quem decide conferir uma direção nobre à própria vida terá mais chances de ser sábio diante da morte

Evitar a reflexão não responde à realidade. Ignorar apenas falseia a objetividade. Desesperar-se? Os que assim o fizeram derrotaram-se duas vezes. Revoltar-se? Mas isso traz alguma solução? Há quem já tenha dito que o melhor modo de lidar com a morte é conferir sentido à vida. Isso não elimina o fim. Mas parece uma maneira mais inteligente e humilde. Inteligente porque não foge da realidade da morte. E humilde porque não afronta a morte, mas resgata a vida. Se os que nos precederam como habitantes dos cemitérios pudessem nos falar, talvez nos deixariam justamente esta recomendação, a da humildade. E a morte dos humildes pronuncia melhor o nosso secreto anseio de eternidade.

Jean Paul Sartre, um dos mais influentes filósofos do século 20, existencialista e ateu, perguntado, no fim da vida, se permanecia descrente, respondeu: “Sim, continuo ateu, mas com a esperança esperante de que Deus exista. Do contrário a vida não tem sentido”. Até ele, um admirável intelectual, de muitas certezas em questionar e duvidar, parecia sentir saudades de quem nunca quisera antes conhecer. Mesmo ele, saudado pelos mais inteligentes, ao perceber o avizinhamento da morte, desejou que Deus existisse para que a vida tivesse sentido.

Quem decide conferir uma direção nobre à própria vida terá mais chances de ser sábio diante da morte. Mas ainda mais que isso. Para quem quiser viver a vida, ou melhor, oferecê-la do modo como Jesus Cristo fez, até a morte se torna pequena para a grandeza do que significa a eternidade junto de Deus. Ele, que é onipotente, esvaziou-se de qualquer potência para que até os absolutamente impotentes, os finados e os candidatos a finados pudessem conhecer seu amor e sua vitória em cada passo da vida. E, no caso do morte, esta não seria um fim. Seria, sim, o grande passo, mas para a eternidade.

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