Em uma semana em que o governo anunciava a possibilidade de aumentar a arrecadação do Imposto de Renda e de tributar dividendos, vimos a absurda aprovação, em comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa mudanças nas regras eleitorais, do chamado “distritão” e de um fundo bilionário para campanhas. Sob a fachada de uma “reforma política”, os deputados se reuniram às pressas e, mais uma vez, realizaram uma votação à noite, em um horário que impossibilitou qualquer discussão democrática.
A ideia da criação de um fundo especial para o financiamento de campanhas surgiu após a proibição das doações de empresas a partidos e candidatos. No novo modelo de financiamento, os recursos virão dos cofres da União. Possibilitar a reserva, no orçamento federal, de R$ 3,6 bilhões para pagar campanhas em um país que alcançou a marca de 14 milhões de desempregados, em que todo o sistema social é precário e em que empresas fecham as portas todos os dias por causa da alta carga tributária é, no mínimo, uma irresponsabilidade.
Se a reforma política for aprovada como está, podemos declarar outra derrota da democracia
Além disso, há o “distritão”, que beneficiará os parlamentares que já estão no poder, uma vez que serão mais capazes de atrair votos em comparação aos novos candidatos ou representantes de minorias, o que dificultaria uma renovação na Câmara e no Senado.
Se a reforma política for aprovada como está pelos plenários das duas casas do Congresso Nacional, podemos declarar outra derrota da democracia, em que o contribuinte pagará, legalmente, para manter um sistema político que olha somente para si mesmo. Um cenário de desrespeito, em que nossos representantes, que deveriam defender a coisa pública e o bem comum, movimentam-se com o objetivo de se enraizarem no poder.
Reforma que é reforma deveria visar o interesse da sociedade. Os brasileiros não suportam mais sofrer as consequências de uma crise econômica instalada no país por nossos governantes e representantes – os únicos, aliás, a não serem atingidos por ela.
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Queremos eleições sérias, baratas e íntegras. Precisamos de representantes que, independentemente de ideologia, partido e unidade federativa, respeitem a forma como as questões de interesse público são decididas.
Como ressaltou Charles de Gaulle, o líder mais influente da história da França moderna, responsável por pôr fim ao caos político que precedeu seu ingresso na presidência daquele país, “política é uma questão muito séria para ser deixada para os políticos”. Todos devem se envolver neste debate. Como podemos discutir reformas se a sociedade nem sequer está bem representada? Sim, demos ao Estado o poder de representação de nossos interesses e direitos. Todavia, é momento de fazermos questionamentos, já que não suportamos mais a predominância do desequilíbrio, do abuso de poder, da onerosidade excessiva e da má-fé praticados pelos que estão em Brasília.
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