A questão do desemprego, dos principais fatores que leva ao endividamento da população no Brasil, possui causas mais profundas do que aquelas que à primeira vista poderiam ser detectadas. É óbvio que, com a economia do país em frangalhos, constrangida por causas endógenas e exógenas, as oportunidades de trabalho com carteira assinada se tornam cada vez mais raras; não sendo criadas por razões óbvias.
Não há outra solução efetiva em vista senão o aquecimento da economia. Por outro lado, há ainda um agravante a ser considerado. É que as únicas oportunidades de trabalho surgidas, na atual conjuntura adversa, têm sido na área tecnológica, não encontrando, todavia, desafortunadamente, em número satisfatório, brasileiros preparados e à altura das vagas oferecidas.
A base desse último problema encontra-se no sistema educacional do país, onde são priorizados preparos para a área acadêmica, nas profissões de nível superior tradicionais, ficando de lado o segundo grau, dito profissionalizante no Brasil, ainda praticado de forma esporádica.
Quando encarado de frente esse problema, surge logo um dilema. Os benefícios de se investir pesado em educação profissionalizante só seriam sentidos no longo prazo, e por isso nenhum governo se dispõe a tanto. Com a alternância do poder nos regimes democráticos, os frutos de uma iniciativa nesse gênero só seriam colhidos nos próximos dois a cinco anos, quando os governos “de plantão” serão outros, muitos deles geralmente representados pela oposição ao governo que, originalmente, desencadeou desinteressadamente um sério e amplo programa de ensino profissionalizante. Contentemo-nos, infelizmente, porém, porque essa crítica situação, de cupidez por dividendos políticos imediatos, não é um "privilégio" do Brasil. Nos países latino americanos esse triste panorama é o mesmo.
O cenário econômico brasileiro atual, com alta inflação e taxa de desemprego elevada é uma situação que afeta não só o bolso do cidadão, e seu endividamento, mas também sua saúde. Estudos recentes comprovam que o peso das dívidas e o bolso vazio prejudicam a mente e o corpo; agravando o risco de doenças, afetando nossas defesas imunológicas, tornando-nos vulneráveis, sobretudo às doenças cardiovasculares, os chamados males do coração; exceção feita aos cantados em prosa e verso.
Mas, como os atuais trabalhadores empregados poderiam gerir melhor o seu parco salário, de modo a afugentar as dívidas? Para início de conversa anotando todas as suas despesas, por menor que elas sejam. Resistindo às compras de impulso e não se deixando levar pela propaganda, cujos apelos muitas vezes são enganosos. Analisando, na hora de adquirir de seus bens de consumo, sua real necessidade de possuir aquele determinado bem; fugindo sempre dos supérfluos. Estabelecer um orçamento prévio, levando em conta seus ganhos mensais, os quais jamais deverão ser ultrapassados por suas despesas. Não se alienar na hora de realizar novas aquisições a prazo, deixando de contar com aqueles gastos mensais, obrigatórios, eis que representados pelas prestações das compras parceladas já realizadas; correndo o risco de se tornar inadimplente, podendo assim perder o controle de suas finanças pessoais. Você pode até assumir financiamentos, mas jamais exaurir sua capacidade de endividamento, comprometendo sua subsistência.
É válido lembrar que ninguém entra em uma espiral de endividamento por vontade própria; somos sempre levados pelas circunstâncias. Sabendo disto, e procurando aliviar a situação dos mais superendividados, o governo sancionou uma lei que modifica o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, conferindo um empoderamento inusitado aos superendividados. O objetivo é que eles possam dizer aos seus credores, os quais foram convocados judicialmente, o quanto podem pagar, a cada um, sem comprometer irremediavelmente um mínimo indispensável à sua sobrevivência.
Para que não se chegue a essa situação de superendividamento, algumas providências muito simples precisarão ser tomadas, como vimos. Tais providências, embora muito simples, demandam certos sacrifícios e uma verdadeira mudança de hábitos, o que, dizem os especialistas, é o principal obstáculo enfrentado, já que mudar hábitos significa mudar de vida. Coisa que nunca é fácil.
Luiz Felizardo Barroso é advogado titular da Advocacia Felizardo Barroso & Associados, doutor e pós-doutor em Direito, professor, presidente da Cobrart Gestão de Ativos e membro da Academia Fluminense de Letras.
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