| Foto: Pixabay

A tão esperada retomada do crédito no Brasil está finalmente se tornando realidade para a felicidade dos empreendedores. Uma mudança recente neste sentido começou a valer em julho quando o Cadastro Positivo foi automatizado. A alteração na lei, que passou a conferir uma nota a todo e qualquer consumidor, vai facilitar o crédito para pessoa física de uma forma simples. Afinal, a partir de agora, financiadoras, bancos e comércio terão informações do quanto o consumidor paga em dia. O benefício principal é a inclusão de 22,6 milhões de brasileiros que estão fora do mercado de crédito, segundo estimativas do governo federal, o que impactará diretamente no crescimento da economia.

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A vantagem para o consumidor é que ele terá um score calculado por bons pagamentos e, com isso, poderá negociar de forma mais agressiva por juros menores e condições melhores. Há esperança ainda que a inadimplência diminua consideravelmente a exemplo da experiência em outros países onde funciona um sistema similar ao do Cadastro Positivo, que permite uma análise de risco mais precisa e eficiente.

Para os empreendedores, a consequência é um fôlego na economia que certamente resultará no surgimento de novos negócios e no crescimento dos que já estão a pleno vapor. O Brasil tem um histórico marcado por burocracias que freiam iniciativas e emperram a captação de recursos. É comum micro e pequenas empresas morrerem na praia em menos de cinco anos de fundação por não conseguirem crédito para se adaptar ao mercado ou aprimorar o produto. É uma perda irreparável considerando números recentes que apontam este nicho como responsável por gerar 387,3 mil empregos no último semestre no país.

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Se o consumidor tem a nota 979, por exemplo, isso significa que o risco de oferecer um empréstimo a ele é quase zero

A mudança na lei do Cadastro Positivo impactará os pequenos, pois garantirá mais poder de compra para o consumidor final que agora ganha mais chances de entrar na briga pelo crédito facilitado. Antes disso, o Serasa/SPC guardava somente o histórico negativo da pessoa física, baseado apenas na quitação (ou não) de dívidas. Só que no momento em que o débito é encerrado, o bureau de crédito é obrigado a voltar o status para "tudo certo". Por isso, este dado se torna irreal. Com o positivo, cada consumidor tem um número de 1 a 1000 e, quanto maior o score, maior é o indicativo de que a pessoa paga em dia. Este modelo já é praticado — e funciona —  em mais de 70 países.

Se o consumidor tem a nota 979, por exemplo, isso significa, basicamente, que o risco de oferecer um empréstimo a ele é quase zero. Assim, a taxa de juros pode ser muito perto do padrão entre 0,6% ou 0,7% ao mês. Para comparar, atualmente, mesmo que um imóvel seja dado como garantia, a taxa dificilmente fica abaixo de 0,9% mensais. É aí que pessoas que não possuem bens — incluídas naqueles 22,6 milhões — se tornam os principais beneficiados pelo Cadastro Positivo, pois poderão usar seu próprio histórico de pagamentos como garantia.

A injeção de capital para este público — estimada em R$ 1,3 trilhão, de acordo com o Serasa Experian — promoverá ainda mudanças no mercado, que também passará a oferecer novos produtos justamente para este novo público. As fintechs estão muito à frente neste ponto. Startups que funcionam como banco digital perceberam há um bom tempo a oportunidade antes mesmo das mudanças aplicadas pelo governo. Hoje, é possível administrar um negócio inteiro sem a necessidade de uma conta bancária, por exemplo. O governo pode ser um bom aliado para fomentar ainda mais esse tipo de negócio e ampliar as chances para os pequenos.

A tecnologia permite hoje que um empreendedor — e até mesmo uma pessoa física — gere boletos e/ou faça transação de valores com taxas mais acessíveis. E uma  legislação mais democrática favorece atual e diretamente estas iniciativas que tornam outras empresas ainda mais dinâmicas, competitivas e com chances de prosperar. Exemplo disso é o registro único de recebíveis de cartão de crédito via registradora que facilitará a antecipação dos pagamentos. Em fevereiro, o Banco Central permitiu que a Central de Recebíveis (Cerc) iniciasse esse processo. Com isso, o consumidor fica livre de empréstimos a juros exorbitantes que dificultam o crescimento e ajudam a ampliar os índices de endividamento. Essa é apenas uma das grandes possibilidades que a modernização da legislação brasileira gera à economia do país. Assim, favorecer os pequenos, dar oportunidade para crescerem é, ao mesmo tempo, promover a geração de empregos e melhorar as condições de vida no Brasil.

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Piero Contezini, CEO do Asaas.