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Há muito me impressiona que numa sociedade como a nossa, focada na idealização do vigor juvenil e do novo, onde a maturidade parece vir cada vez mais tarde, anciões como os papas católicos recentes, Ariano Suassuna ou Nelson Mandela – para lembrar alguns nomes recentes – despertem tanto fascínio inclusive entre os jovens. Não costumam ser unanimidades – a unanimidade é burra ou oportunista –, mas gozam de admiração, respeito e influência surpreendentes. Parecem exceções, mas são tão frequentes que acabam sugerindo uma tendência: num mundo carente de parâmetros, cheio de dúvidas e inseguranças, eles se impõem como sinais de sabedoria.

Nas sociedades tradicionais, a sabedoria era identificada com a mentalidade hegemônica. No dualismo do mundo moderno, sábios somos nós e tolos os que pensam diversamente de nós. No pluralismo pós-moderno, parece quase impossível identificar a sabedoria. Mas ela continua necessária e atraente.

Mas o que é a sabedoria? Podemos defini-la como a capacidade de encontrar um sentido para a vida. A mentalidade moderna frequentemente reduziu a questão do sentido da realidade a uma dimensão apenas psicoafetiva, mas o sentido refere-se ao grande sistema de sinais que orientam as pessoas em sua conduta no mundo. Sem um sentido, ainda que implícito e contraditório, a pessoa se imobiliza diante da vida.

A ciência poderá dizer quais as chances de sobrevivência de um enfermo grave e a vontade dirá o que gostaríamos que acontecesse com ele, mas só a sabedoria permitirá tomar uma decisão adequada sobre sua vida, considerando sua felicidade e a daqueles que o amam. Ser sábio não é fácil, talvez não concordemos com o que é sábio e o que não é, mas precisamos da sabedoria.

Estas considerações me vêm à mente quando penso no momento político brasileiro. Por estranho que pareça, conheço muito mais homens bons que homens sábios. Escândalos de corrupção como os dos "mensalões" me parecem muito mais fruto da falta de sábios que saibam que os fins não justificam os meios e que o bem exige o compromisso e o esforço de todos, que do excesso de corruptos.

Mas nos falta uma sabedoria capaz de mostrar que as artes do bem viver e do bem governar andam juntas, a orientar os esforços da economia e da política na direção do bem comum. A mentalidade moderna acostumou-se à ideia de que a política era apenas uma questão de poder. Mas isso não é totalmente verdade. A construção do bem comum é fruto de uma sabedoria política capaz de conciliar poder com solidariedade e justiça.

A construção desta sabedoria não é obra exclusiva dos políticos – afinal, a sabedoria popular reconhece que a política é algo muito importante para ficar só na mão dos políticos. Trata-se de uma construção coletiva que exige a superação de interesses particulares e corporativos. A sabedoria não pode ser construída sem um olhar solidário para com o outro, para com os fragilizados pela pobreza e pelas dificuldades. Exige um compromisso com a realidade capaz de superar, no diálogo com os demais, a falsa segurança dos esquemas ideológicos (em outros tempos, chamaríamos a isto de compromisso com a verdade). E, quando se trata de política, requer o esforço coletivo de uma nação.

Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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