Ministro da Economia, Paulo Guedes| Foto: Sérgio Lima/ AFP
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O coronavírus é uma triste realidade que infecta de forma quase instantânea e mata muito! Colocou a economia do mundo e do Brasil de joelhos: todas as atividades econômicas do mundo tiveram de ser paralisadas, a fim de evitar que o vírus se propagasse com mais força. As principais nações, como Estados Unidos, China, Alemanha e Inglaterra, estão paralisados, com raras exceções. Alguns adotaram 100%  de isolamento vertical (isolamento social) para evitar um mal maior, ou estão de quarentena mais estendida, ou evitam a entrada de estrangeiros para impedir que a contaminação em massa volte, como na China. Simultaneamente ao isolamento, os principais países capitalistas, que seriam referência para o Brasil, optaram pela injeção de capital na veia dos trabalhadores.

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Temos de estimular as pessoas mais humildes a ficarem em casa, obviamente que com valores dignos, como Donald Trump, Angela Merkel e Boris Johnson, entre outros, estão fazendo. Deixemos trabalhar os que podem fazê-lo de casa, além dos que estão em serviços essenciais e parte da indústria, esclarecendo que a logística nacional e internacional não pode e não será parada. Estamos falando aqui de conter a movimentação de pessoas de forma desnecessária, como prega a OMS.

Os Estados Unidos definiram a doação de um cheque de US$ 1,2 mil por trabalhador e US$ 500 por filho, sem contar a injeção de capital para as empresas, estimando gastar US$ 2,2 trilhões. Essa atitude deixa as pessoas mais tranquilas quanto à sua subsistência nos próximos meses, com valores dignos, e sem causar pânico social, pois as nações estão trabalhando de forma unificada e sob a liderança de seus respectivos chefes de governo.

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Enquanto isso, no Brasil, o valor inicialmente apresentado pelo governo era vergonhoso: R$ 200. Depois, provocado pelo Congresso, o governo subiu a ajuda para R$ 300 e, no fim, o Legislativo aprovou o valor de R$ 600 por unanimidade. Um aumento que só ocorreu graças ao Congresso. É pouco, mas muito melhor que a ideia inicial.

O que chamei de “#coronavoucher1000” seria um valor razoável, similar ao salário mínimo, para todos os trabalhadores. Valor baixo, sim, mas digno dentro do contexto atual da realidade brasileira. No Brasil, existe a cultura de que tudo que for para os mais humildes ou menos desfavorecidos tem de ser precário. Temos de mudar este paradigma e o complexo de vira-lata que, via de regra, sempre é implementado no âmbito governamental.

E, além do governo federal, os governos estaduais e prefeituras devem dar a sua cota de participação para ajudar os menos favorecidos, que são a maioria esmagadora da população. Um exemplo muito interessante é de Salvador, que irá pagar um valor adicional de R$ 270 para as pessoas menos favorecidas. Tenho convicção e esperança de que os demais deveriam se espelhar.

Em outras crises, o governo lançou mão de injeção de capital para bancos e empresas em montante muito superior ao atual, além, ainda, de promover desonerações para setores escolhidos a dedo, como as indústrias automobilísticas, em detrimento de outros. O governo federal poderia aumentar o auxílio para R$ 1 mil sem problema algum, pois, no atual momento econômico, o endividamento faz parte do contexto. Temos de preservar vidas e dar um mínimo para a população; não será por isso que o país irá quebrar. Além disso, temos uma reserva cambial de US$ 390 bilhões, ou mais de R$ 3 trilhões. Parte deste dinheiro poderia e deveria ser usado para a subsistência dos mais humildes, neste momento crítico da crise. Não quero aqui dizer que se deve queimar esta reserva, mas sim em usar um valor substancial para este momento. Desta forma estaríamos favorecendo a população, como nos Estados Unidos, e injetando ainda mais dinheiro na economia. Isto faria com que a arrecadação subisse, criando retorno para o governo.

Temos, portanto, uma “arma de hidrogênio letal”, a reserva cambial de R$ 2 trilhões, para solução do problema. E que não está sendo nem mesmo cogitada para minimizarmos e resolvermos este problema econômico tão profundo.

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Màrcello Bezerra é professor, economista, jornalista e palestrante.