A situação da Palestina é nuclear no entendimento das relações políticas no Oriente Médio porque ela contribui para unir diversas nações árabes em torno da preservação de sua identidade como civilização e da rejeição a Israel. Diante de um fato consumado, que é a existência do Estado de Israel, o futuro dos palestinos não depende exclusivamente do andamento das negociações de paz, mas principalmente de uma profunda auto-crítica e da revisão das principais motivações do que se conhece por "causa palestina".
Um dos maiores desafios para as relações internacionais no século XXI é a concretização de um relacionamento pacífico e estável entre israelenses e palestinos. Após várias tentativas fracassadas, cabe perguntar quais são as chances de que mais um processo de paz seja devidamente implementado e bem-sucedido. Não basta analisar essa questão a partir dos atores e dos interesses envolvidos. É também necessário considerar que, no Oriente Médio, alguns resquícios da Guerra Fria permanecem vivos.
O nacionalismo árabe palestino tornou-se um movimento político significativo na cena mundial quando os conflitos da região do Oriente Médio passaram a fazer parte do jogo de xadrez entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS). Em 1947, Andrei Gromyko, delegado soviético nas Nações Unidas, afirmou-se favorável às aspirações dos judeus de terem o seu próprio Estado. Em 1948, a URSS foi o segundo país a reconhecer Israel, dois dias após o reconhecimento norte-americano. Contudo, a partir de 1954 os soviéticos passaram a condenar Israel, acusando-o de colaborar com as ambições imperialistas do Ocidente. A causa palestina começou a ser, então, alimentada diretamente pela URSS, inclusive mediante o fornecimento de recursos para grupos terroristas.
A intensiva permeação ideológica soviética foi mais importante do que o apoio logístico oferecido aos extremistas palestinos. O Conselho Mundial para a Paz (CMP), controlado por Moscou, era uma organização de fachada que funcionava como instrumento de propaganda e de guerra política. Em 1979, o CMP organizou uma conferência que teve como tema o apoio à unidade dos países árabes e à Organização para a Libertação da Palestina de Yasser Arafat, forçando a interpretação do conflito entre israelenses e palestinos à luz de uma visão marxista das relações internacionais.
Mesmo após o desmoronamento da URSS em 1991, os efeitos de décadas de influência soviética ainda são visíveis. Além do mais, o fim da Guerra Fria não significou o fim das ideologias de esquerda, para as quais a causa palestina continua sendo uma importante bandeira política. Os principais interesses dos palestinos são a manutenção da sua existência física e a preservação de sua cultura e de seu modo de vida.
Os auto-proclamados defensores da causa palestina, no entanto, insistem em caracterizar um conflito regional como resultado de uma fictícia oposição entre opressores e oprimidos em escala mundial, fabricando assim uma polarização que fomenta a intolerância entre as partes envolvidas. O futuro dos palestinos depende, portanto, de que eles possam libertar-se das manipulações ideológicas, para que possam deixar para trás a sombra da Guerra Fria e concentrar seus esforços no reconhecimento de suas verdadeiras necessidades.
Claudio Téllez é analista internacional, matemático e Vice-Presidente de Formação e Projetos do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP).
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