A pobreza é o estado natural do ser humano e das sociedades. O desenvolvimento é o esforço, bem-sucedido, de vencer esse estado e atingir elevado padrão de bem-estar pessoal e coletivo. Mas o que é a pobreza? De forma simplista, podemos dizer que alguém é pobre quando não dispõe das condições exigidas para bom padrão de vida. Por "condições" podemos entender: a) alimentação suficiente e de boa qualidade; b) moradia confortável; c) serviços de energia, água e esgoto; d) vestuário e calçado suficientes; e) assistência médica capaz de manter a boa saúde; f) educação de bom nível; g) lazer; e) trabalho e remuneração capaz de pagar os itens anteriores; f) proteção na velhice e na doença.
O desafio que se impõe ao indivíduo, isoladamente, e à sociedade, coletivamente, é como conseguir criar os bens e serviços públicos e privados para que as "condições" necessárias à eliminação da pobreza sejam atingidas. A limitação maior está em que são os próprios indivíduos que devem "produzir" esses tais bens e serviços. Portanto, a pobreza pode ser entendida, inicialmente, como resultado da incapacidade daqueles mesmos que sofrem os efeitos dela. Avançando na análise do tema, dá para inferir que a pobreza é um estado natural dos indivíduos e da sociedade, e que a incapacidade do homem de sair dela deriva da sua própria ignorância; e esta pode ser definida como a "ausência de conhecimentos e falta de domínio da tecnologia de criação de riqueza".
Assim, o nível de ignorância passa a ser um elemento-chave na compreensão do estado de pobreza, pois que a própria ignorância é, também, um estado natural do homem, e o primeiro passo para sair da pobreza é eliminar esse outro estado natural (a ignorância). Dada a evolução da humanidade, o processo de criação de riqueza e a solução dos problemas do homem são mais fáceis se houver "cooperação social", no sentido de que os indivíduos devem se agrupar para, pela divisão do trabalho e pelas regras de convívio social, poderem produzir mais e melhor.
A pesquisa científica, a divisão do trabalho, a especialização profissional, a organização empresarial da produção e o trabalho assalariado foram invenções que permitiram à humanidade: a) elevar seu nível de conhecimento; b) criar novos métodos e processos tecnológicos; c) compartilhar os conhecimentos e técnicas apreendidos; d) aumentar exponencialmente a produção; d) atender uns aos outros com alta especialização; e) melhorar substancialmente o padrão de vida.
A superação da pobreza (que é um estado natural do homem) somente foi possível pela superação, antes, da ignorância (outro estado natural do homem). Todavia, entra em cena outro problema complexo: como superar a ignorância? Como a ausência de conhecimento e a falta de domínio da tecnologia (a ignorância) referem-se a um estado de natureza mental, esse estado pode ser superado, pois a mente é capaz de evoluir, aprender, produzir ideias e soluções. Ocorre que esse processo de evolução e aprendizado é lento, cansativo e oneroso. Aí entra o papel da "educação", sem a qual não há a superação da pobreza. Não há atalhos. Por mais que as nações possam assimilar os conhecimentos e as técnicas já alcançados por outros países, o processo é lento e demorado, além de somente ser possível de forma coletiva, razão pela qual a educação tem que decorrer de políticas públicas.
O ser humano agregou-se em grupos (família e nação) por duas razões principais: porque é em grupo que o animal homem realiza sua humanidade e porque é de forma coletiva que ele resolve melhor seus problemas, sobretudo a superação da pobreza. Há, sem dúvida, outros elementos que interferem na situação. Todavia, a essência da pobreza tem relação direta com a ignorância, e esta vincula-se de forma definitiva com o processo educacional.
Se o mundo der ao Haiti uma montanha de dinheiro para que a infraestrutura seja reconstruída e ampliada, aquele povo continuará no seu estado de pobreza extremada, pois lhes faltam os conhecimentos e as técnicas para criar riquezas. O estoque de capital (o total de bens e equipamentos produtivos) pode ser recomposto e suficiente para melhorar as condições daquele povo. Mas a ignorância impedirá que esse mesmo povo opere o capital mais os recursos naturais para gerar os bens e serviços necessários à melhoria do padrão de vida da população em níveis capazes de superar a pobreza.
José Pio Martins, economista e vice-reitor da Universidade Positivo
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