Presidente da China, Xi Jinping, quer controlar a narrativa sobre o coronavírus em seu país.| Foto: Noel Celis/AFP
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Um dos pilares da civilização ocidental moderna é a liberdade de expressão. É claro que ela não é absoluta e tem seus pontos fracos, como a difusão de fake news, por exemplo. Contudo, a tentativa de controle sobre a informação que é exercida pelos governos totalitários tende a se mostrar mais cedo ou mais tarde muito mais prejudicial para a sociedade.

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A crise global gerada pelo novo coronavírus é em parte prova disso, pois a doença só se tornou realmente uma pandemia graças à ocultação de informações do Partido Comunista Chinês no início do surto.

Após o Convid-19 chegar aos países ocidentais, muita coisa foi descoberta sobre o vírus e o intercâmbio de dados sobre possibilidades de tratamento acelerou, mostrando que a liberdade de expressão ocidental é uma ferramenta valiosa para derrotarmos o novo coronavírus. Vamos recapitular algumas informações preliminares chinesas e como elas foram desmentidas mais tarde.

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A primeira e talvez a mais grave foi espalhar a informação de que o vírus não era transmissível entre humanos, em 14 de janeiro deste ano. Contudo, o mandatário máximo da nação sabia de uma nova e perigosa doença na província de Hubei desde pelo menos 7 de janeiro. Em vez de guiar-se pela precaução, a China espalhou uma informação dúbia que foi inclusive replicada pela própria Organização Mundial da Saúde.

O próprio médico que soou o alarme para o novo coronavírus em Wuhan, o dr. Li Wenliang (que morreu em fevereiro com a doença), foi punido pela polícia que monitora a Internet pelo que eles descreveram como disseminação de informações "falsas".

É de se perguntar quantas vidas teriam sido poupadas se, com informações mais precisas ou pelo menos mais cautelosas, restrições de viagens fossem adotadas mais cedo para conter a difusão do vírus.

O modelo chinês

Outra informação que ainda está para ser confirmada no Ocidente é se o modelo de contenção da epidemia conhecido como lockdown funciona de fato. A China foi o primeiro país do mundo a implementar a medida de confinamento para toda uma população para conter o contágio, em 23 de janeiro deste ano. E, segundo os dados “oficiais” do governo chinês, houve uma queda vertiginosa de pessoas infectadas no país.

Essa informação fez com que muitos países que foram mais tarde atingidos por um surto da doença, como Itália, Espanha e França adotassem as mesmas medidas de restrição. Mas o lockdown é realmente efetivo?

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Na  Itália, por exemplo, desde o dia 11 de março todas as “atividades não essenciais” do país estão fechadas. Mesmo assim os números diários de novos casos não sofreram nenhuma queda vertiginosa como supostamente ocorreu na China. Também é de se levar em conta que o período de transmissão da doença é de no máximo 14 dias. Com 30 dias de confinamento era de se esperar que o caso estivesse bem resolvido, mas não é o que o que os números de contágio diário apresentam.

Houve uma estabilização dos números, mas em nenhum momento uma queda tão drástica no contágio como aconteceu na China.

A quantidade de dados que temos disponíveis já poderia servir para questionar se o “modelo chinês” é realmente efetivo e se a China não estaria ocultando informações novamente sobre o atual estágio da doença no país. Perguntas como essas tornam-se dia após dia mais fundamentais devido às consequências econômicas e sociais que são geradas pela paralisação de diversos setores do país durante o lockdown.

Em contrapartida, um país vizinho da China, a Coreia do Sul, não implementou o modelo chinês e apresentou até aqui bons resultados na contenção da doença sem precisar interromper suas atividades econômicas.

Infográfico - Gazeta do Povo
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A aplicação de soluções uniformes para todos os países do mundo apresenta problemas sérios porque as particularidades de cada nação, como recursos médicos e tecnológicos e tempo de descoberta do primeiro caso, exigem também uma resposta particular.

É o que afirma Renato Grinbaum, médico infectologista e consultor da Associação Brasileira de Infectologia (ABI), “a forma como cada país coleta os dados faz com que os números de cada país não sejam necessariamente comparáveis. Por exemplo, há países que testam em massa, outros, que não tem condições para isso e por isso testam apenas os graves, como o Brasil”.

Mas como explicar a queda abrupta dos casos chineses? Para o Grinbaum “o que talvez explique os dados da China é que, mesmo com o lockdown, ela tenha atingido mais rapidamente a chamada imunidade de rebanho (quando uma porcentagem considerável da população já adquiriu anticorpos para a doença), por ter sido o primeiro país atingido, e portanto a doença poderia ter se alastrado bastante antes que houvesse algum controle”.

“Na Europa, a curva está caindo de maneira menos abrupta justamente por efeito do lockdown, que faz com que o contágio desacelere, mas também a queda a partir do pico do surto. Isso é um comportamento bastante esperado para a epidemia”, conclui ele.

É difícil portanto saber exatamente se foi o lockdown ou a imunidade de rebanho que resolveram o surto da Covid-19 na China. Isso confiando apenas nos dados “oficiais” do Partido Comunista Chinês.

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Formas de tratamento

Outra medida controversa que o governo chinês está apoiando é o uso de tratamentos não comprovados para a Covid-19 como a medicina tradicional chinesa (MTC), cujos tratamentos incluem um caldo de ervas composto de nozes de betel, amêndoas e efedra, além de acupuntura e moxabustão (a queima de materiais vegetais secos perto da pele). Por todo o mundo, autoridades têm avisado sobre os riscos dos tratamentos alternativos para o tratamento do coronavírus. A China não levou isto em conta e enviou especialistas em MTC com as equipes médicas que o país distribuiu pelo mundo como forma de “ajudar” no combate à crise.

Seu uso, contudo, se restringe aos casos leves da doença - e não possuem nenhuma comprovação científica. Para o tratamento de casos graves, os médicos chineses utilizam métodos “ocidentais”.

As formas de tratar a doença são, no momento, o maior motivo de controvérsia nas discussões públicas, mas também a nossa maior esperança. Mais um ponto para a liberdade de expressão.

Atualmente, os médicos compartilham nas redes sociais seus relatos de tratamento e também os estudos clínicos e científicos sobre a doença para o mundo todo em tempo real. É claro que isso exige uma grande responsabilidade tanto para o médico que emite uma opinião quanto para o receptor da mensagem que terá de decidir o que fará com a informação recebida.

Portanto as controvérsias envolvendo o uso da hidroxicloroquina ou mesmo de corticoides no tratamento da doença, em vez de nos assustar ou perturbar, devem servir de alento.

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A Freedom House, organização não governamental americana pela liberdade de imprensa, apontou, em março deste ano, o quão prejudicial seria se os governos usassem a pandemia como desculpa para a supressão da liberdade de expressão.

“Agora, mais do que nunca, o mundo precisa dos benefícios da governança democrática, incluindo imprensa livre, debates abertos e inclusivos sobre políticas e cooperação de boa fé entre autoridades eleitas no país e no exterior para enfrentar efetivamente essa crise global da saúde”, afirmou o presidente da organização, Michael Abramowitz.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]