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O tempo passa, o discurso sobre sustentabilidade cresce em desenfreada verborragia, e as velhas práticas que pressionam o patrimônio natural com todos os mais variados empreendimentos econômicos continuam praticamente as mesmas em Curitiba. Um caso emblemático se refere ao novo shopping de luxo construído na Avenida Batel, mais uma vez com o atropelamento do interesse público em troca de adequações equivocadas e a não punição dos responsáveis pelo flagrante descumprimento da lei.

Não foi fácil chegarem a este ponto. Depois de muitos anos pressionando por um licenciamento, finalmente a obra se inicia. Hoje, seus proprietários aguardam impacientemente o alvará de funcionamento que estabelece algumas condicionantes complementares àquelas estabelecidas originalmente. O procedimento é direcionado pelos gestores públicos do município, uma vez que o que foi projetado para ter uma determinada medida extrapolou em muito os limites legalmente acordados. Um descuido premeditado e uma agressão às regras do jogo. E, talvez, merecedor de posicionamento menos lascivo do poder público.

Agora, sacrificar o remanescente de vegetação nativa, tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural do Governo do Estado do Paraná, representa, para alguns, a única possibilidade de minimizar os congestionamentos que serão causados pelo incremento de tráfego na região – que já é excessivamente intenso. Basta abrir uma rua onde hoje existe a floresta. Tão simples quanto corriqueiro. A corda sempre tende a arrebentar no lado mais fraco – o da conservação e o do interesse público, naturalmente.

É inconsequente a pretensão dos que pleiteiam este descalabro esperar que nós, curitibanos, assimilemos a solução mágica proposta sem uma reação à altura. Este é um dos únicos remanescentes naturais do Batel e, apesar das pressões sofridas nos últimos anos, ainda persiste um trecho da área significativa. Arquitetos e engenheiros tiveram décadas para estudar e projetar o que seria realizado naquele espaço, garantindo-se a incolumidade da floresta nativa ali existente. Não o fizeram.

E o que resta ao conjunto de responsáveis por tratar deste assunto? Ultrapassaram os limites conscientemente, descumpriram as leis conscientemente, e também conscientemente estão procurando empurrar goela abaixo da sociedade uma solução imoral. Vale dizer que, mais uma vez, acredita-se que nós assimilaremos bem o papel de idiotas alienados. Ocorre que as ruas não estão mais transmitindo esse grau tão elevado de passividade. Mudamos muito, ao que parece. E mudamos mesmo!

A cidade de Curitiba tem regras rigorosas em relação ao uso de áreas naturais remanescentes e vem implantando avanços contínuos para que esses pontos isolados de nossa cidade, tanto públicos quanto privados, continuem existindo, garantindo a minimização dos efeitos negativos de uma urbanização cada vez mais intensa. Assim, a política de hoje em Curitiba segue na contramão do que está sendo proposto.

Repudiamos veementemente essa ação. Não estamos tratando de um punhado de árvores que podem ser compensadas com a "plantação de mudinhas" em algum local ermo. Não estamos tratando de uma compensação que "pague" a destruição da área de bosque em questão. Estamos tratando de manter a dignidade e o respeito com a indicação de soluções que passem longe das agressões equivocadamente pretendidas. Salvemos, enquanto ainda podemos, os derradeiros remanescentes de floresta nativa de nossa cidade!

Terezinha Vareschi é presidente da Associação dos Protetores de Áreas Verdes de Curitiba e Região Metropolitana (Apave).

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