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O momento de maior frisson foi quando o palestrante exibiu na tela duas frases: "O envelhecimento é uma doença curável". "A morte da morte?"

Bons foram os argumentos, tangenciando a imortalidade, diante da perplexidade de todos. Daqui a 30 anos, os humanos chegarão saudáveis aos 150 ou mais anos. E justificou: compartilhamos 90% do genoma dos ratos, cuja idade normal já conseguimos multiplicar por dois ou por três. No Império Romano, a expectativa de vida era 23 anos; em 1900, era 33; hoje, é de 76 anos.

E, num arroubo de eloquência, o palestrante foi enfático: em três décadas vamos, sim, dobrar a idade – ou mais. Lembrei-me de Matusalém, o personagem do Gênesis que teria morrido com 969 anos. Ao meu colega do lado, fiz blague: ele falou em 30 anos? Só tenho uma certeza: esses avanços tecnológicos jamais me alcançarão; por isso, vou continuar tentando salvar a alma, porque o corpo já está perdido.

Com a tecnologia crescendo exponencialmente, avanços incríveis acontecerão, bastando lançar um olhar ao passado recente: há 30 anos éramos desprovidos do PC; há 20, do celular; há 10, do Google. Hoje, a vida é inimaginável sem eles. Em 1996, Garry Kasparov era considerado o maior enxadrista de todos os tempos. Alguém o desafiou e venceu. Quem? O Deep Blue, um megacomputador construído pela IBM. Por menos de US$ 1 mil, a partir de 2030 teremos máquinas – que manifestam "sentimentos" – capazes de superar o cérebro humano. Este "se dedicará às tarefas mais criativas e empreendedoras, pois para as rotineiras e repetitivas usaremos robôs e a inteligência não biológica (artificial)". E "os robôs serão mais humanos que os humanos".

Crível ou não, o exposto acima foi o preâmbulo de uma das mais impactantes palestras a que já assisti, ministrada por um diretor da Singularity University, fundada em 2009, no Vale do Silício. Não fornece diploma; a afluência às suas 100 vagas é de 4 mil candidatos do mundo todo e sua credibilidade advém do apoio que recebe da Nasa, do Google e da Microsoft. As aulas são ministradas por professores de diversas áreas – a multidisciplinaridade está impregnada no ar que se respira. Um dos fundadores do Google é assertivo no site da Singularity: se eu fosse estudante, iria querer estudar aqui. Um senão: o curso padrão dura dez semanas e custa a bagatela de US$ 25 mil.

A aprovação do candidato vai da sua experiência internacional, das habilidades para ser líder e empreendedor, e do ardente anseio por novos conhecimentos. Ah, e de uma pergunta cuja resposta é muito bem avaliada: como você pretende mudar o mundo? Perscrutar o futuro é o foco, e o aluno tem de ter espírito multidisciplinar para ingressar no maravilhoso mundo das quatro áreas que a Universidade da Singularidade prioriza: biotecnologia, nanotecnologia, bioinformática e neurociências. Graças à nanotecnologia, não haverá lixo no futuro, e até o conceito de lixo precisa adequar-se, pois "não existe lixo, e sim matéria orgânica em lugar errado". Projetos magníficos estão em desenvolvimento, em consórcio com outras universidades, para reduzir a pobreza e as doenças, e nas áreas de energia, aeroespacial, poluição, alimentos, água etc.

Em uma década, o mundo estará totalmente conectado, todos dispondo de banda larga gratuita. A qualquer dúvida tem-se, por comando de voz ou teclado, a resposta instantânea. As escolas terão de se adaptar a uma nova forma de ensinar – desde a não ênfase à memorização, e sim ao raciocínio, às relações interpessoais, ao trabalho em grupo e multidisciplinar e ao comprometimento com as causas comunitárias. Desaparecerão os conteúdos fragmentados, divididos em caixinhas estanques – a prevalência é a interdisciplinaridade. O ensino presencial é mais importante que ensino à distância? Bobagem! É ensino e ponto. Metodologias diversas serão empregadas pelos professores, em salas totalmente interativas. Porém, até onde a vista alcança, a aprendizagem não se efetivará sem esforço e disciplina pessoal.

Jacir J. Venturi, coordenador da Universidade Positivo e professor aposentado da UFPR e PUCPR, é presidente do Sinepe/PR.

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