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Opinião do dia 1

A universidade e o trote

A cada ano escolar que se inicia, acompanhamos pela mídia, muitas vezes estarrecidos, as mesmas notícias sobre como os alunos que ingressam nas instituições de ensino superior por todo o Brasil são recepcionados por seus colegas no tão temido trote. A brincadeira para celebrar uma nova fase da vida dos ingressantes, envolvendo veteranos e calouros, remonta às origens das universidades em todo o mundo. É certo que o momento é mesmo de celebração e que toda a comunidade acadêmica deseje acolher a chegada de novos integrantes neste estágio de formação intelectual.

O trote nasceu para celebrar a vitória, mas, infelizmente, muitos destes ganharam características completamente deslocadas do ambiente universitário, tornando-se momentos de violência física e moral. Apesar de serem minoria, os exemplos do que ocorre nos trotes violentos são chocantes e causam indignação em toda a sociedade. Como afirma o professor Antonio Zuin, estudioso do assunto, o trote é como um rito de passagem que pontua a transição para uma fase adulta e intelectualmente diferenciada.

No Brasil, este ritual, em alguns casos, tem combinado elementos de masoquismo e sadismo, criando um círculo vicioso que faz com que o calouro suporte a violência à qual é submetido, tendo em vista uma "revanche" nos calouros do próximo ano.

Como fica claro, é inadmissível que este tipo de comportamento ocorra nas universidades, uma vez que são elas as responsáveis por formar os futuros cidadãos que comandarão o país. Como universidade, nossa responsabilidade não se restringe apenas à formação profissional dos nossos alunos, mas também à transmissão de valores maiores que permitam desenvolver uma compreensão maior do sentido da vida e da solidariedade.

A PUCPR, entendendo seu compromisso com a formação integral de seus alunos, repudia e proíbe os trotes violentos. A universidade assim age porque, mais do que preservar a imagem da instituição, é pautada nos princípios cristãos, o que nos impele a não sermos omissos diante da banalização da violência, tanto física como moral.

Por esta razão, a PUCPR, por meio de sua Pastoral Universitária e do Diretório Central dos Estudantes, realiza o Trote Solidário. Consiste numa forma diferenciada de celebrar a vitória do ingresso na universidade com ações voluntárias de solidariedade, tais como arrecadação de alimentos e campanhas de doação de sangue.

Nesta ação, a comunidade acadêmica, tanto calouros como veteranos, é convidada a repensar o rito de passagem do trote tradicional, incluindo outros elementos que marcam a passagem a uma fase intelectual mais madura. O objetivo desta ação é promover a ruptura do ciclo vicioso da violência que o trote tradicional representa. O trote solidário entrou substituindo as atividades de acolhida ao calouro por atividades mais consistentes com o que se espera das futuras gerações de líderes do nosso país.

Paulo Mussi Augusto é vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

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