Alimentos ficaram quase 50% mais caros desde janeiro de 2020. No mesmo período, inflação média foi de 31%.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo
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Valioso e raro na sociedade atual, o tempo já era considerado um deus implacável desde a mitologia antiga e, nos dias de hoje, mostra sua força imparável. O tempo é também uma preocupação central para iniciativas como o Pacto Contra a Fome e organizações globais como a Organização das Nações Unidas (ONU), além de governos de todo o mundo, que buscam cumprir Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.

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As dificuldades impostas ao cumprimento das metas globais estão descritas no Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2024, da ONU. A insegurança alimentar continua, globalmente, em níveis acima dos relatados em 2019, antes da pandemia da Covid-19. Na avaliação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o mundo regrediu 15 anos nos indicadores de insegurança alimentar, tornando cada vez mais desafiador atingirmos a meta de acabar com a fome e a subnutrição até 2030. Ao mesmo tempo em que 783 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo, o equivalente a mais de um bilhão de refeições são desperdiçadas diariamente.

Apesar de a fome ser um problema estrutural relacionado à pobreza, desigualdade e nossos sistemas alimentares, atuar para reduzir o desperdício e as perdas em favor da segurança alimentar é um ganho triplo — ambiental, social e econômico. Exemplo disso é a redistribuição de comida para pessoas em situação de vulnerabilidade pelos bancos de alimentos. Estudo recente do movimento Todos à Mesa mostra que as doações de alimentos representam, hoje, menos de 1% de tudo que é desperdiçado no Brasil e que há espaço para ampliar esse volume, passando das atuais 200 mil toneladas de alimentos por ano para 600 mil.

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Mudar o cenário da fome e do desperdício de alimentos no Brasil é urgente e requer que passemos a abordar os temas de maneira sistêmica e também incorporando a responsabilidade coletiva em nossas ações como indivíduos. Conscientizar as pessoas sobre a mudança de comportamento necessária e seu impacto positivo é o primeiro passo.

Neste sentido, o Pacto Contra a Fome iniciou em setembro uma campanha nacional de conscientização sobre a perda e o desperdício de alimentos. Focado em ações práticas que podem ser implementadas no dia a dia das pessoas, a campanha conta com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o WWF Brasil, a ONG Banco de Alimentos, o Instituto da Criança, o SESC Mesa Brasil,  a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a rede de shoppings Multiplan, e pretende iniciar uma ampla discussão sobre o tema com a sociedade, mostrando que esse é um tema que gera impacto coletivo e, por isso, deve ser de interesse e responsabilidade de todos nós.

O desperdício tem um enorme custo para a sociedade, o meio ambiente e as economias globais. O impacto financeiro do desperdício na economia global é estimado em cerca de US$ 1 trilhão pela FAO. Além disso, entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa são oriundas da produção de alimentos não consumidos, ¼ do suprimento de água doce é usado no plantio de alimentos que acabam no lixo e ⅓ das terras agrícolas são usadas na produção de alimentos desperdiçados.

Há ainda prejuízos ao bolso dos consumidores. Cada pessoa joga fora cerca de 94 kg de alimentos por ano. Estima-se que uma família formada por três pessoas desperdiça anualmente o equivalente a R$ 1.630, ou seja, mais de um salário mínimo. Um valor relevante e que poderia ser reduzido.

Temos hoje um ano a menos para implementar ações efetivas que contribuirão para alcançar as metas previstas nos ODS. A urgência em enfrentar esse desafio é uma constante lembrança da necessidade de ação imediata de todos  para garantir um mundo sustentável. Que cada um faça hoje a sua parte para que, juntos, possamos construir um futuro melhor. 

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Maria Siqueira é cofundadora e diretora de Políticas Públicas do Instituto Pacto Contra a Fome.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]