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“A primeira fumarada”: assim exaltava o professor e engenheiro Osvaldo Piloto, ex-presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (gestão de 1939/1940), referindo-se ao trecho ferroviário Paranaguá-Curitiba, inaugurado em 2 de fevereiro de 1885; para ele, foi “o alvorecer de nova era de progresso no Paraná”. Obra que ora comemora seus 130 anos de gloriosa existência.

Relembro que sobre o tema, em julho de 1993 (portanto, há 20 anos), alertávamos, através de artigo veiculado no jornal Folha do Comércio (editado pela Associação Comercial do Paraná), a necessidade urgente de termos uma nova ferrovia, ligando o planalto curitibano até o Litoral, para assegurar a utilização do potencial de nosso maior porto como escoadouro de nossas crescentes riquezas – terminal marítimo já existente à época e enorme portal aberto aos mercados mundiais. Aproximava-se, então, no Extremo Oeste, a operação da Ferroeste, projeto e construção modernos, ligando Cascavel até Guarapuava pelo novo segmento do importante modal ferroviário.

A junção da nova linha com a antiga oferecia dificuldades na racionalidade do tráfego, em equação de difícil resolução para a integração logística pela ocorrência de diferentes velocidades no percurso, que caíam de 60 km/h para 16 km/h, conforme o estrangulamento de certos trechos.

No trecho Curitiba-Paranaguá, onde continua em operação a linha atual, tradicional e imperial, almejou-se iniciar um novo investimento ferroviário, mas a tentativa só foi realizada em parte, quedando inerte desde 1973, com várias obras prontas: regularização do solo e implantação de arte (pontes), que se deterioram pelo abandono prolongado nestes 40 anos.

Mas essa melhoria é fundamental por evitar enormes gargalos, principalmente na convergência de cargas em Curitiba, o que hoje força a alternativa pelo transporte rodoviário, acarretando prejuízos aos produtores, além do congestionamento de nossas saturadas estradas – pouco melhoradas, no nível da demanda, pelas concessionárias do pedágio –, levando os usuários individuais de veículos de passeio a disputar em desvantagem os perigosíssimos espaços ocupados por comboios de volumosos caminhões “bitrens”.

Empunha-se desfraldar de forma permanente nestas últimas duas décadas a mesma bandeira, sem esmorecer pela causa, em exaustivas, mas persistentes tratativas. Esse esforço em parte vingou: obteve-se por consenso, em 2013, notável avanço: a definição unânime pela fixação de novos segmentos ferroviários em nosso rincão. Tais caminhos, baseados em sustentações formais de laudos profissionais habilitados, sob o manto de normas tecnológicas modernas, são o fruto de um trabalho visando o interesse comunitário, sob a coordenação do Fórum Permanente Futuro 10 Paraná, no qual têm assento os principais entes representativos e organizações não governamentais capacitadas, cujos líderes demonstram elevado e altruístico interesse paranista.

Uma vez realizado o novo trecho prioritário, deveremos vencer outras etapas, objetivando chegar à nossa Tríplice Fronteira, e desta a outras produtivas terras, nacionais e internacionais – estas, numa direção transcontinental para integrar oceanos. A ora estabelecida trilha será uma evolução, em melhor rumo, para nossa economia, permitindo encetar etapas seguintes, após inaugurada a nova linha férrea rumo ao Litoral.

De fato, o desafio apresenta-se hoje maior, gravíssimo, pela notícia publicada há quase um ano nesta Gazeta do Povo. Em 27 de fevereiro de 2014, informava: “Rachadura na Ponte São João interdita a ferrovia Curitiba/Paranaguá, parando trens de carga e turismo” por quase 24 horas! Registre-se que essa interrupção se repete, na mesma maior e importante ponte! Sempre recuperada por consertos, mercê da sua comprovada fadiga metálica, fruto do tempo de existência, agravada pelas cargas excedentes e contínuas que suporta, superiores aos limites calculados na origem em seu projeto técnico.

Há de se considerar, também, como fato parceiro grave, o desgaste físico da via permanente (dormentes, trilhos, talas de junção, tirefonds, pregos de linha, sinalizações que se tornaram “pitorescas”, peças do início) e deterioração de suas edificações integradas, como a majestosa residência Ipiranga, no alto da Serra do Mar, ao tempo ocupada por dirigentes, engenheiros e convidados da memorável R.V.P.SC.

Tudo ali carece de sistemática manutenção e revitalização, compatível com a atual demanda; a qual, não sendo aplicada, dá por consequência repetidas ocorrências de descarrilamentos de trens, com enormes prejuízos para a sociedade paranaense; além de manchar a imagem da centenária ferrovia. Frise-se, ainda, neste caso, o descompasso entre o sucesso da nossa produtividade nos campos (que cresce ano a ano em progressão geométrica) e setores produtivos urbanos ante a operação dos modais, ferroviário e rodoviário; vale dizer, entre demanda e oferta no segmento de transporte.

Feita a parte prioritária – inadiável –, a emblemática “Maria Fumaça” cumprirá novo período de vida. Será preservada por marco da engenharia nativa, sempre capaz de solucionar problemas a contento, como fez há 130 anos, em conquista que perdura. Ficará apropriada exclusivamente aos serviços do turismo, à ecologia e ao estímulo aos estudantes de Engenharia, para pesquisa de tecnologias adotadas há mais de um século e mesmo assim comparáveis às dos dias presentes.

Urge, portanto, que nós – povo e autoridades paranistas – despertemos para a “segunda fumarada”, exibindo a mesma vontade política de realizar, com o mesmo entusiasmo, autoridade e competência do imperador dom Pedro II, que em cinco anos inaugurou a notável obra – monumento, sim, iniciado em 1880! Realizado o novo traçado, a ferrovia atual, livre das pesadas cargas que vem suportando, desfilará firme e garbosa, majestoso trem de ferro, como principal atração turística de Curitiba; continuando a encantar o mundo e honrando a memória de um passado competente. Despertemos, portanto, para a “segunda fumarada”.

Jonel Chede, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná, é presidente do Movimento Pró-Paraná.
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