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A vacinação da Covid-19 avança no mundo, a morte de idosos diminui e aumenta a sensação de que o pior da pandemia já passou. Seja pela exaustão da população que se manteve até agora isolada, pela necessidade de sair para trabalhar ou por acreditar que nas pessoas mais jovens o vírus é menos agressivo. O fato é que os cuidados e, principalmente, o isolamento diminuíram. Mas, por mais desanimador que seja, ainda temos algum tempo até podermos afrouxar de vez o distanciamento, o uso de máscaras e de álcool em gel.
Muitos pensam que, pelo fato de os avós ou pais já estarem imunizados com as duas doses da vacina, não tem mais problema realizar o almoço de domingo com a família toda reunida, o filho adolescente ir à festinha do amigo e até mesmo tomar uma cervejinha enquanto curte o jogo do time do coração com a turma. Mas, infelizmente, não é isso que observamos nos hospitais. Os leitos das UTIs continuam lotados. O que mudou foi o perfil dos pacientes, mas a expressão de pavor diante do agravamento da doença e do medo de morrer é a mesma.
Agora os pacientes são mais jovens. Nós nos enxergamos cada vez mais neles, que estão com os filhos pequenos em casa e a família em prantos. O corpo mais sadio, muitas vezes sem nenhuma comorbidade, luta com um vírus cada vez mais agressivo, que algumas vezes deixa cada um de nós, os profissionais da saúde, com a impressão de que ainda não aprendemos a lidar com as facetas do coronavírus no organismo e suas complicações. Mesmo que nós tenhamos aprendido e lutado muito, o comportamento sem responsabilidade de alguns faz com que o vírus seja mais rápido e nos surpreenda sempre. E o tempo de internação acaba sendo ainda maior. Vemos pacientes que ficam semanas e mais semanas em um leito de hospital.
Nesses 15 meses de pandemia, é difícil o profissional de saúde que ainda não tenha escutado a súplica pela promessa de melhora, da possibilidade de passar o próximo Dia dos Pais junto do seu filho, o Natal com a família, ou simplesmente para sair da intubação com vida. Nunca foi tão desafiador e exaustivo trabalhar em uma unidade de terapia intensiva.
Os casos são cada vez mais graves e complexos. Muitas vezes os pulmões parecem pedras, devido à rigidez causada pela quantidade de fibroses. O momento certo para a extubação é uma incógnita. Cada vez mais recorremos a tratamentos extremos, que consideramos a última chance de respiro de um paciente, quando nos deparamos com o triste “é tudo ou nada”.
E tudo na Covid-19 é muito difícil. Não ter a liberdade de ir e vir para cumprir a rotina diária é desgastante. Não poder encontrar os amigos é complicado. Trabalhar na saúde está pesado. Lembre-se disso, mesmo no momento de tomar um café com o colega que está de máscara diariamente trabalhando com você. Muitas vezes é nesses minutos que acontece o contágio.
É desafiador, mas precisamos ter um pouco mais de paciência. Porque, se por um lado o número de atestados de óbito que assinamos nos hospitais aumentou, por outro continuamos presenciando os casos de superação da doença, de milagres a que assistimos todos os dias. Essa pandemia vai acabar, mas, para isso, cada um precisa assumir a sua responsabilidade e fazer a sua parte.
*Jarbas da Silva Motta Junior é médico intensivista e coordenador da UTI Covid do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba.