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| Foto: Raul Arboleda/AFP

A tensão existente entre a Venezuela e seus vizinhos, Brasil e Colômbia, apoiados pelo Estados Unidos, traz um clima pouco vivido na América Latina. Após a Guerra do Paraguai, em 1864, quando brasileiros, argentinos e uruguaios formaram a Tríplice Aliança contra os paraguaios, a região vive em relativa união. O atual cenário político se desenha para decisões difíceis e perigosas para o nosso país. Mesmo por uma causa justa, derrubar o governo de Nicolás Maduro pode trazer grandes prejuízos financeiros e, principalmente, de vidas.

Derrubar por medidas diplomáticas, com embargos econômicos, pode gerar mais pobreza no país e aumentar os confrontos internos, o que não ajuda em nada a população local. Além disso, pressionado, o governo venezuelano deve aumentar a temperatura, gerando reações violentas nas fronteiras. Isso empurraria a todos para um confronto entre nações.

Partir para uma guerra é ainda mais perigoso. Um conflito não tem um tempo determinado. Mesmo vencendo, uma guerra civil por disputa de poder entre guerrilhas ou partidos poderia se instaurar, vide Iraque e Afeganistão, onde o exército americano já está há mais de 15 anos. Quantas vidas seriam necessárias para sustentar este embate? Quanto seria investido nesta missão? Importante citar, que não é ser “capitalista” em pensar em dinheiro, pois ele sairia de outras áreas que deveriam ser prioridades no momento, como educação, saúde e segurança interna.

Entrar em uma guerra junto com os Estados Unidos poderia gerar desconfianças na região

Neste último caso um adendo muito importante: já vivemos uma guerra interna que precisa ser combatida e priorizada. Nossos assassinatos anuais matam mais que o Estado Islâmico na Síria. Como entrar em um conflito, sem resolver os nossos primeiro? Seria a primeira explicação que o governo precisaria dar.

Além disso, temos a política externa. Entrar em uma guerra junto com os Estados Unidos poderia gerar desconfianças na região. Quem garante que, em um futuro próximo, os interesses americanos não sejam contra outros países? Quem garante que não seja contra nós mesmos? A geopolítica das últimas décadas embasa as nossas desconfianças. Os EUA apoiaram o Talibã contra os Russos no Afeganistão. Depois, entrou em guerra contra o grupo controlado por Osama Bin Laden. Este é um dos infinitos exemplos que mostram quão frágil são as alianças internacionais no mundo. O Brasil não tem poderio balístico para se impor perante o “Tio Sam”, assim como faz a China e a Rússia, por exemplo.

Como sair desta sinuca é uma questão que deve ser bem pensada pela nossa inteligência militar e, principalmente, política. Decidimos nos envolver e, agora, precisamos ter uma posição. Manter a diplomacia e ser um intermediador entre os Estados Unidos e a Venezuela, para que se chegue a uma solução política do impasse, seria o melhor papel para o Brasil.

Opinião da Gazeta: O primeiro grande teste do Itamaraty (editorial de 25 de fevereiro de 2019)

Leia também: Procura-se uma Ilha de Elba fora da Venezuela (artigo de Rene Berardi, publicado em 3 de março de 2019)

Se colocar como uma liderança local, ajudando a manter a paz, é essencial para o nosso crescimento como potência política. Mesmo com os ânimos exaltados na fronteira, o nosso governo deve tomar as rédeas da negociação e tentar intervir pelo bem dos venezuelanos, mas com inteligência nas negociações.

Declarações fortes ou ameaças veladas podem inflamar ainda mais essa disputa e dificultar a situação de quem deveríamos priorizar: a população venezuelana, que sofre com o descaso de Maduro. Agravar a situação também vai prejudicar quem deve ser o principal foco do nosso governo: o povo brasileiro.

Marco Antônio Barbosa, especialista em segurança e diretor da Came do Brasil, é mestre em Administração de Empresas, com MBA em finanças e diversas pós-gradua ções nas áreas de marketing e negócios.
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