| Foto: WorldSkills International

O povo brasileiro anda cansado de más notícias. A enxurrada de escândalos de corrupção que há anos toma conta das manchetes da imprensa nacional – e se espalha por veículos de comunicação de todo o mundo – tem afetado a autoestima de nossa gente. Em meio a tantos exemplos desanimadores, no entanto, a juventude brasileira ainda é capaz de mostrar que devemos, sim, acreditar no país.

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Na semana passada, o Brasil conquistou a segunda colocação na WorldSkills, maior competição de profissões técnicas do planeta. Realizada entre 15 e 18 de outubro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a disputa reuniu mais de 1,2 mil jovens de 68 países, que competiram em 52 ocupações do setor industrial e de serviços. A delegação brasileira, que defendia o título conquistado na edição anterior, em 2015, foi composta por 56 integrantes, a grande maioria alunos e ex-alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). No fim, nossa equipe, que conquistou 15 medalhas e 26 certificados de excelência, foi superada na pontuação geral apenas pela Rússia – que, por sinal, teve alguns de seus competidores passando por treinamentos com técnicos do Senai.

Enquanto instituições como o Senai alcançam resultados expressivos para o país, o Sistema S sofre ataques

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Esse resultado excepcional, que deve encher de orgulho qualquer brasileiro, é uma clara mostra do enorme potencial que nossa juventude tem quando são dadas oportunidades adequadas para seu desenvolvimento. É, ao mesmo tempo, mais uma prova de que a estrutura de ensino profissionalizante administrada pelo chamado Sistema S, do qual o Senai faz parte, proporciona justamente as condições necessárias para esse desenvolvimento de nossos jovens.

Mantidas com contribuições pagas pelos empresários, sem qualquer desconto para os trabalhadores, e sujeitas à fiscalização de suas contas por série de órgãos públicos de controle, essas instituições prestam um serviço inestimável ao Brasil. O Senai, por exemplo, já formou mais de 71 milhões de profissionais para a indústria desde sua fundação, em 1942. As qualificações que oferece são, sem dúvida alguma, um dos principais meios para aumentar a renda e garantir uma vida digna para milhões de famílias brasileiras.

Chega a ser espantoso saber que, enquanto instituições como o Senai alcançam resultados tão expressivos para o país, o Sistema S sofre um verdadeiro ataque em esferas como o Senado Federal. Sem o menor pudor, alguns parlamentares defendem medidas que praticamente inviabilizariam as atividades dessas entidades e comprometeriam de maneira drástica a formação de mão de obra para o setor produtivo brasileiro.

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Em vez de se preocupar com uma estrutura que funciona e evolui constantemente – como mostram os seguidos bons resultados do Brasil na WorldSkills –, nossa classe política precisa gastar energia para aprimorar áreas que deveriam estar no topo das prioridades do poder público. Entre elas, a educação básica, que por sua baixa qualidade faz com que o país passe vergonha em rankings internacionais. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil registrou queda em sua pontuação nas três áreas avaliadas, ficando abaixo da média mundial em todas elas. Assim, ocupou apenas a 59.ª posição em leitura, a 63.ª em ciências e a 66.ª em matemática. Detalhe: a prova foi aplicada em 70 países.

Com má gestão dos recursos públicos, agravada pelos desvios escandalosos da corrupção, nossos governantes dão um mau exemplo para o mundo e fazem a população sofrer. Mas, felizmente, nossa juventude, com atitudes positivas como sua dedicação na WorldSkills, vai em caminho contrário e é capaz de mostrar a verdadeira face do povo brasileiro. Um povo trabalhador e criativo, que tem todas as condições de colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento que merecemos. Que esse belo exemplo renove nossas esperanças e faça com que sejamos mais atuantes na busca por um país melhor e mais justo.

Edson Campagnolo é presidente do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).