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A pandemia nos revelou fatos universais e concretos, que de tão óbvios vale escrever sobre eles para despertar os nossos sentidos.

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O ar ficou mais puro e necessário. Mais puro porque as emissões de gases poluentes e de ações humanas contra a natureza foram reduzidas e o planeta respirou como há muito não fazia. O ato inconsciente de respirar passou a ser desesperadamente sentido por quem precisava de ar ou por quem receava a sua falta.

A água passou a ser protagonista na prevenção. Lavar as mãos e higienizar a mente e o corpo desde sempre foram medidas recomendadas de saúde. Manter-se hidratado aumenta a imunidade, e as estiagens catapultaram a importância da água. Sem água, não há vida.

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O sol foi valorizado e, sem temor, tomamos banhos dele. Ainda mais com tempo, durante os períodos mais apropriados. Sol é saúde. Expusemos nossos corpos, roupas e tecidos a ele. É ruim para o vírus e nos dá a famosa vitamina D.

O fogo nós usamos para preparar os alimentos. Viramos chefes de cozinha. Alimentamos nossas famílias e isso nos deu novos laços umbilicais.

Nossa saúde ressuscitou em grande estilo. Praticamos meditação. Ouvimos música e lemos. A atividade física é uma constante na rotina. O sono de qualidade nos ocasionou insones horas na busca do sono ideal.

A vaidade teve breve folga. Os cabelos ficaram sem tinturas ou aventuramo-nos nos cortes domésticos e amadores. Ficamos mais belos naturalmente e sem artifícios.

O dinheiro virtual tornou-se realidade urgente. O comércio preferiu o plástico ao dinheiro físico cheio de impurezas.

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O imponderável aconteceu e o petróleo ficou com preços negativos. Lei antiga e atualíssima da oferta e da procura. De volta para o passado.

Todo esforço direcionado aos idosos, às crianças, às gestantes e aos que padeciam de doenças crônicas. Sem lei que determinasse essa proteção, apenas o senso comum e o instinto da preservação. Contrário à seleção darwinista, não houve seleção natural e sim natural seleção.

Evoluímos todos a discutir ciência, às vezes sem ciência. Certo é que todos aprendemos um pouco, até sobre nossas limitações e desejos.

A educação e o trabalho, como que milagrosamente e de repente, ficaram remotos e melhores. Toda a discussão sobre o tema teve quase unanimidade.

As famílias e os amigos passaram a ser objeto de saudades. Aquele sentimento do amor que se tem pelo outro. Cuidamos do próximo como de nós, máxima de todos os povos em todos os tempos.

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Apertos de mãos, abraços e beijos foram substituídos por sorrisos, olhares e reverências. Atos que igualmente manifestam respeito e carinho.

Tudo se pode adquirir remotamente. Alimentação, compras de mercado, máscaras de proteção. Os deslocamentos e a presença são fetiches humanos dispensáveis em muitos casos.

Tudo se transforma. Fábricas de roupas passaram a confeccionar máscaras. Impressoras foram adaptadas para produção de protetores faciais. Montadoras de automóveis lançaram respiradores. Mercantilistas amanheceram voluntários.

Profissões que nunca deveriam ser menosprezadas mostraram seu valor. A cadeia de atendimentos, desde o mais humilde prestador de serviços até o doutor-professor, foi reconhecida.

A medicina devolvida aos médicos, seu direito inalienável. Na hora derradeira, médicos com todas as letras em destaque foram convocados. Doaram suas vidas por pacientes que nem sequer conheciam. Assim é a sina da profissão. Os internamentos passaram a ser uma interrogação. Um salto para o desconhecido. E a solidão do isolamento de uma UTI, um martírio para todos. Basta uma palavra e uma vida será salva ou, ao menos, o conforto e o consolo será dado.

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As mortes ficaram um tanto impessoais. Estatísticas, gráficos, números e projeções. Uma parte do luto foi alijada das famílias e amigos. Mas já se disse que saudade é o amor que fica. Essa lacuna o tempo preencherá, nem que demore.

O precioso tempo caminhou devagar e passamos a tê-lo em abundância. Tempo para ler, brincar, pensar, viver. Temos tempo para viver a vida simples que buscamos incessantemente.

Soluções são rápidas quando precisamos delas. Leis foram criadas, algumas que tramitavam há tempos foram desengavetadas. Tecnologias surgiram como mágicas; a criatividade aflorou como poucas vezes presenciaremos.

O futuro imita o passado. Em remotos lugares e períodos, a humanidade presenciou outras pandemias. Uma reprise para alguns. Por certo e por fé não queremos outra experiência como essa.

Há um senso de felicidade em meio aos caos. A graça da vida e a vida engraçada; dilema ético.

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Redescobriremos coisas que sabíamos. O ar não custa nada e há em igualdade, sem privilégios. Todos adoecem pelos mesmos vírus. Não há riqueza que transforme dinheiro em ar ou cura. Temos de cuidar dos mais vulneráveis. A história dirá os equívocos e acertos do presente. Fácil profetizar, fácil opinar depois de terminado o “jogo”. Durante a pandemia, tudo se faz complexo diante do sopro da vida.

De tudo restará uma grande lição: a vida é agora!

Roberto Issamu Yosida, médico especialista em ginecologia e obstetrícia, é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.