Somos seres emocionais. Não gostamos de ver gente doente, sofrendo, morrendo. Temos acompanhado, com tristeza, gente perdendo gente. Também temos assistido à luta diária de profissionais de saúde do mundo todo para salvar vidas. A empatia nos aproxima de cada história, de cada vítima, especialmente quando elas ganham um rosto, um nome.
Por que, então, não temos sofrido e até mesmo chorado diante dos casos de aborto que se multiplicam e que, aos poucos, passam a ser vistos como normais, como legais? O que diferencia a morte de um bebê em formação da morte de uma criança, de um adulto ou de um idoso?
Assisti, perplexo, à aprovação recente do aborto na vizinha Argentina e às celebrações pela aprovação de uma lei que permite a morte de inocentes no ventre de suas próprias mães, a partir da escolha delas. Usando a cor verde, que costumamos associar à natureza e à esperança, mulheres comemoraram o “direito” de interromper gestações e eliminar fetos até a 14.ª semana.
No documento de 12 páginas da lei argentina que surgiu a partir de 38 votos a favor da legalização do aborto, 29 votos contra e uma abstenção, consta que “mulheres e pessoas com outras identidades de gênero com capacidade para gestar crianças” têm o direito de decidir pela interrupção da gravidez e devem ser atendidas na saúde pública no prazo de até dez dias. Essa decisão pode ser tomada por maiores de 16 anos de idade, ou seja, por adolescentes.
A lei é de 30 de dezembro de 2020. Enquanto nos preparávamos, distraídos, para a virada de ano, alguns preocupados com comida e outros, com que roupa usar, o direito à vida de meninos e meninas foi retirado. O mesmo já havia acontecido em outras seis dezenas de países que legalizaram o aborto. E nós nem fomos às ruas para protestar, para usar a cor preta, para dizer que não concordamos com isso. Eu não concordo. E estou certo de que a vida merece a minha e a sua defesa em todas as suas fases. Aborto, só em caso de risco de vida para a mãe.
Nesses dias, tenho lembrado das falas da Madre Teresa de Calcutá, vencedora do Prêmio Nobel da Paz. Ela dizia que o aborto é o grande destruidor da paz, porque é uma guerra contra a criança. E, de fato, “se aceitamos que uma mãe possa matar até o seu próprio filho, como poderemos dizer às pessoas que não se matem umas às outras”? Madre Teresa oferecia a solução às mulheres que pensavam em abortar: a adoção.“Por favor, não destrua a criança, nós ficaremos com ela.” Se a mãe não quiser criar, há os que podem fazer isso.
Não quero e nunca vou condenar quem fez aborto. Não cabe a mim julgar e, como cristão, acredito que todo pecador merece perdão, quando se arrepende verdadeiramente. Mas também não posso silenciar, ignorar o que está acontecendo, porque pretendo lutar com todas as forças para evitar que o aborto seja legalizado no Brasil.
Tenho três filhas. Elas têm rostos e nomes e a história de cada uma começou quando estavam sendo gestadas. Também têm rostos e histórias as mulheres que abortam, mas a elas é dada a opção de não abortar, enquanto aos bebês não resta escolha. Eles precisam da nossa proteção. Se essas mulheres optam por matar o feto e colocar suas próprias vidas em risco, algo deu errado na sociedade e precisa ser corrigido, seja pela prevenção, pela educação, pela conscientização.
Não combina com o atual momento em que vivemos – e nunca combinará – o esforço para salvar uns e virar as costas a outros. Não há argumentos que possam justificar o aborto que não seja espontâneo. Nunca haverá. Será sempre uma violência contra a vida.
Valdemar Bernardo Jorge é secretário do Planejamento e Projetos Estruturantes do Paraná.
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