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Artigo

A vista do alto do muro

"Nos dois lados do muro tem gente no comando, pessoas que dominam todo o sistema e querem mantê-lo a qualquer custo. Chegam a cometer reais e visíveis genocídios para não largarem o comando: aviões caem misteriosamente, pistas de crimes somem, políticos são negociados à luz do dia sem remorsos". (Foto: Reprodução/Unsplash)

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Já se incomodou com assuntos de política? Teve discussões com família, amigos, no trabalho? Então seja muito bem-vindo a uma nova era, um tempo em que política se discute na fila do coletivo, na festa, no bar, no trabalho, na igreja, no hangar da aeronave. Você não vai conseguir se esconder; por mais que tente se afastar, basta ligar o rádio ou sua tevê em qualquer jornal e pronto, lá está o defensor de um lado ou outro para convencê-lo que o lado dele é o certo.

Como conservador que sou desde minha conversão ao protestantismo, no início dos anos 90, estive ferozmente defendendo um lado desde que esta separação foi iniciada. Não vou incomodar o leitor com informações históricas que poderiam vir lá dos filhos de Abraão, que discutem seus direitos de primogenitura até hoje. Vamos a um tempo mais recente, aqui nos anos 50, com a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética; ou, mais recentemente, a divisão criada “nós contra eles”, e é aí que eu começo a ter um lado.

Paguei um alto preço por não fazer parte da turma de lá. Eles tentaram me retirar do sistema uma primeira vez, mas não conseguiram; por fim, na segunda tentativa tiveram êxito e fui exonerado depois de mais de 20 anos de trabalho, perdendo minha aposentadoria e tudo mais que meu cargo público me permitia. Como nunca fui “da turma”, toda e qualquer ilegalidade cometida contra mim ficará para futuros estudantes de Direito entenderem que hoje o direito é só uma ferramenta manuseável de acordo com intere$$e$.

Sempre defendi que muro é um lugar bem quentinho e agradável, feito para covardes. Contudo, como bom aluno que sou, estou ouvindo posições que estão do outro lado do muro e nem me parecem tão absurdas assim. Deste modo, resolvi subir no muro para olhar.

Nos dois lados do muro tem gente no comando, pessoas que dominam todo o sistema e querem mantê-lo a qualquer custo. Chegam a cometer reais e visíveis genocídios para não largarem o comando: aviões caem misteriosamente, pistas de crimes somem, políticos são negociados à luz do dia sem remorsos.

Daqui de cima, de imediato consigo observar que “democracia” nunca foi alcançada por nós e não será, nem com os caras da direita limpinha, nem com os da esquerda peluda. A dita “democracia”, como foi arquitetada pelos gregos, jamais foi implantada e não o será por um pequeno problema: o ser humano é apenas um detalhe, uma peça no projeto, mas que não é nem sempre previsível ou totalmente confiável. Este pequeno item desta equação impossível não consegue sobreviver sozinho; desde que nasce, precisa de alguém carregando-o, alimentando-o, limpando-o e ensinando-o. Vai crescer sob o exemplo dos seus criadores até a “idade do capeta”: a adolescência, quando um espírito maligno invade esse corpinho e dita as regras; fortalecido por um professor ou amigo apreciador de ervas proibidas, este ser fica bem suscetivel a se transformar naquilo que é aquele professor ou amigo.

De cima deste muro eu vejo, de um lado, drogas, funk, professores panfleteiros, mais drogas, gente pobre, gente rica – gente rica? Sim, os que se aproveitam destes pobres e com eles enriquecem mais e mais, misturando-se e defendem seus ideais, até donos de bancos e bilionários internacionais; afinal, pobreza gera gente, que gera pobreza, que gera renda!

Vejo que eles defendem uma luta pelo social, por uma divisão mais justa de renda, por saúde e educação bancadas pelo Estado! Que não haja fome, crime, discriminação por cor, sexo, opção de reprodução. Em alguma coisa acho que posso concordar; afinal, se vamos viver em sociedade, alguma justiça deve haver, sem crime, sem discriminação por qualquer opção, com respeito entre os diferentes.

Olho do outro lado do muro e vejo famílias unidas, filhos respeitando e cuidando de seus pais e parentes, jovens em escolas dominicais de igrejas e vivendo segundo os preceitos de sua fé. Vejo velhos que querem mudanças para o futuro com base em experiências saudáveis, guardando os fatos importantes do passado e procurando desviar-se dos que se mostraram ruins. Vejo uma preocupação com o social para que não haja fome, levando alimento material e espiritual para que as pessoas se livrem da pobreza e consigam comprar seus alimentos, libertando-se dos assistencialismos. Uma preocupação com a segurança, mantendo o patrimônio de quem trabalhou duro para ter ou herdado de alguém que trabalhou para isso. Vejo um livre mercado de capitais, em que o mercado se autorregula pela oferta e procura, sem interferência de oligopólios ou monopólios.

Nos dois lados do muro tem gente no comando, pessoas que dominam todo o sistema e querem mantê-lo a qualquer custo. Chegam a cometer reais e visíveis genocídios para não largarem o comando: aviões caem misteriosamente, pistas de crimes somem, políticos são negociados à luz do dia sem remorsos.

Acredito que poderíamos usar as coisas que são testadas e aprovadas nos dois lados do muro e ter uma terceira opção, mas isso não é tema para agora; por ora, encerro este pequeno pensamento daqui, deste lugar gostoso e quentinho que é o muro.

Adilson Claudio Martins Stewart é formado em Direito e Administração, com especialização em Comércio Exterior, escritor e autor de “Gestão pública brasileira para o século 21” e “Geração de idiotas úteis”.

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