O recente acordo bilateral com a União Europeia, a abertura do mercado chinês para o leite brasileiro e a aproximação comercial do Brasil com os Estados Unidos são notícias relevantes para o produtor de leite do país. Essas aberturas comerciais ainda precisam ser mais bem definidas em seus termos e condições, e por isso ainda é difícil fazer previsões. Mas é esperado que a competição aumentará no mercado doméstico. Por outro lado, analisando alguns dados, é possível também antever oportunidades que poderão surgir se todo o setor se concentrar na boa gestão de sua produtividade.
A gestão das fazendas vai se tornar essencial nesse novo ambiente
A indústria do leite nacional é bastante grande. O Brasil é o quinto produtor mundial, com cerca de 7% do volume global. É uma força. Se investir em modernização e tecnologia, pode aumentar suas chances de competir e crescer, com maior qualidade do produto e maior eficiência de todo o processo produtivo. Na ponta, isso exigirá melhores fazendas produtoras, o que energizará produtores, fornecedores, veterinários e técnicos em um movimento que pode afetar toda a cadeia para melhor.
Do ponto de vista do produtor, a gestão das fazendas, que já era importante, vai se tornar essencial nesse novo ambiente. A boa notícia é que há muito a se fazer nessa área. Em sua edição de julho de 2019, em que avaliou o desempenho de 900 fazendas de leite gerenciadas do Brasil, o Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB) apontou que, na média geral, 15% das bezerras morrem antes de completar um ano de vida. Já nas fazendas Top 10% (as mais bem ranqueadas em relação à pontuação geral), 9% das bezerras morrem antes de um ano, indicando um claro potencial para melhoria. Esse é um fator que impacta diretamente a lucratividade de uma fazenda.
- O acordo entre Mercosul e União Europeia (editorial de 30 de junho de 2019)
- Barreiras à importação, um velho debate econômico (artigo de Lucas G. Freire, publicado em 14 de fevereiro de 2019)
- Qual o caminho da política comercial brasileira? (artigo de Cintia Rubim, publicado em 1.º de abril de 2019)
O próprio IILB já apontou o quanto, teoricamente, a boa gestão poderia fazer pela produtividade do leite nacional: se o rebanho leiteiro brasileiro tivesse o mesmo desempenho médio que as vacas das 900 fazendas avaliadas pelo índice (21,8 litros/animal/dia), o Brasil poderia multiplicar por quatro sua produção atual, que hoje gira em torno de 33 bilhões de litros. Uma oportunidade importante também para os produtores paranaenses. O Paraná é o terceiro maior produtor nacional, com grande competitividade. Seu rebanho tem alto porcentual de gado europeu, mais produtivo. Tem concentração geográfica e volume, o que facilita a logística, um fator de atração de novas empresas. E suas fazendas estão entre as mais tecnificadas do país. São razões pelas quais a indústria do leite do Paraná pode ganhar com um movimento focado na profissionalização da gestão, conquistando um papel ainda mais importante na indústria nacional do leite.
Heloise Duarte é diretora-geral da Ideagri e uma das realizadoras do fórum AgroAsk.
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