Elizabeth II se tornou a monarca com reinado mais longevo da história britânica.| Foto: Caroline Brehman/EFE
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God Save The Queen. O falecimento súbito de Sua Majestade Elizabeth II no dia nove deste mês, em sua residência de férias, o Castelo de Balmoral, na Escócia, abalou o povo britânico e milhões de pessoas ao redor do mundo. A Rainha tinha 96 anos e passou 70 deles no trono. Foi a monarca britânica com o maior tempo de reinado. Governou por mais tempo do que qualquer outro monarca na história britânica e globalmente como monarca adulto, tornando-se uma figura muito amada e respeitada em todo o mundo.

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Ainda assim, embora pareça estranho, nunca imaginei que precisaria escrever este artigo. Na final, nossa brilhante Rainha parecia invencível, eterna, capaz de estar conosco para sempre. Ao longo desses anos, ela foi nosso Norte, um verdadeiro colosso que abrangeu décadas incomparáveis de serviço público, dedicação e espírito indomável. Com certeza, sua morte foi um dos dias mais tristes, de luto profundo, na longa história das ilhas britânicas. Ela era tudo o que a maioria de nós, britânicos, conheceram, fazendo parte intrínseca de nossa infância e vida adulta, firmemente plantada em nossa identidade nacional.

Com seu poder de ultrapassar a política e a geografia, a Rainha tocou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Sua Majestade e a monarquia de modo geral são a própria essência de ser britânico.

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O choque foi maior também porque somente dois dias antes a Rainha convidou a nova primeira-ministra para formar um novo governo no seu nome. Tipicamente, a Rainha trabalhou até o fim; no caso, o fim de uma era. Nas palavras de Liz Truss – 15ª primeira-ministra do Reinado desde Winston Churchill em 1952 – a Rainha foi a rocha sob a qual foi construído o Reino Unido moderno.  Entre o nascimento de Churchill e o de Truss se passaram mais de 100 anos.

Durante o reinado de Elizabeth II, o Brasil teve 20 presidentes diferentes. A Rainha se encontrou com cinco deles. Aos 19 anos, a rainha Elizabeth II (então Princesa Elizabeth) se tornou a primeira mulher integrante da família real a se juntar às forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial, servindo no Serviço Feminino Auxiliar do Território. A história é simplesmente impressionante.

Estamos todos muito mais pobres por sua perda, mas, sem dúvida, nos tornamos muito mais ricos por poder tê-la conosco nos guiando, sempre disponível e presente. Como Sua Majestade tão sabiamente colocou, “o luto é o preço que pagamos pelo amor”. E como uma nação, o commonwealth e o mundo a amavam e respeitavam, como demonstrado na imensa fila do público para prestar homenagem no seu velório, que se estendeu aproximadamente por oito quilômetros com pessoas esperando quase um dia todo.

Com seu poder de ultrapassar a política e a geografia, a Rainha tocou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Sua Majestade e a monarquia de modo geral são a própria essência de ser britânico. A Rainha simbolizava quem era e como deveria ser o povo britânico. É difícil imaginar o país sem ela.

Todavia, acredito que o momento também é de celebrar seu legado e agradecer por todo seu serviço. De fato, uma das maiores honras da minha vida foi organizar as iniciativas comemorativas e o Jubileu de Platina aqui em Curitiba e Londrina há poucos meses, em junho. Junto com a Prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná foi feito um mês de celebração da cultura britânica em homenagem à Rainha, com uma recepção no Palácio Iguaçu, inauguração de placa no Memorial Inglês, uma semana de filmes britânicos no Cine Passeio, exibição digital com imagens da Rainha no Passeio Público e um fantástico show dos Beatles e Shakespeare na Capela Santa Maria. Em Londrina, foi inaugurado um jardim da Rainha com a prefeitura.

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Além disso, a embaixada britânica promoveu pela primeira vez e, infelizmente, a última vez neste formato, a Festa de Aniversário – Queens Bithday Party – em Curitiba na majestosa Ópera de Arame. Como Ésquilo, dramaturgo da Grécia Antiga, disse "não há dor tão grande quanto a lembrança da alegria na dor presente”.

Ninguém fez mais que ela para fortalecer os laços de amizade, compreensão e respeito entre o Reino Unido e o restante do mundo. Ela foi nossa maior diplomata. Elizabeth II viajou mais do que qualquer outro monarca britânico: foram 260 visitas oficiais ao exterior a mais de 100 países. A Rainha recepcionou 112 chefes de Estado, incluindo brasileiros. Ela visitou o Brasil em 1968 e nos 12 dias de viagem foi a Salvador, Brasília, São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, além de ter passado pelo Recife. A Rainha disse estar comovida com o povo brasileiro e o potencial para cooperação e parceria entres os dois países. Em 2022 isso é mais importante do que nunca.

Nosso novo rei, Charles III, também veio para Brasil. Em março de 1978, o então príncipe Charles, visitou o Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Manaus. Ele voltou ao Brasil mais três vezes, em 1991, 2002 e 2009. Também se encontrou com governadores e prefeitos do Brasil em Glasgow, durante a COP26 no ano passado.

Esta semana foi realizada, em Londres, a maior reunião de líderes mundiais sediada no Reino Unido nas ultimas décadas, com cerca de 500 chefes de Estado, primeiro-ministro, realeza e líderes de todo o mundo junto com uma enorme multidão e milhões de pessoas assistindo ao redor do mundo. A ocasião foi marcada por detalhes, tradição, pompa, certamente uma experiência de tirar o fôlego que mostrou o melhor do Reino Unido. Um evento notável e tocante que combinou tradições e cerimônias centenárias, momentos pessoais e espetáculo real.

Embora tenha sido, sem dúvida, uma ocasião triste, com muitos sentindo a imensa perda, foi também uma oportunidade para refletir sobre o dever e dedicação em servir ao país, que Sua falecida Majestade demonstrou desde o momento em que se tornou Rainha, em 1952, até sua morte. Mais de 10 mil membros das forças armadas também, como sempre, fizeram um trabalho impecável. Símbolos como a Rainha não morrem, deixam um legado para a humanidade que a história vai reconhecer para sempre. A grande lição é tentar seguir seus exemplos de serviço público e dever cívico.

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O novo Rei Charles, que já é muito popular e com mais de 60 anos de serviço público, vai dar continuidade à monarquia moderna que, nas palavras dele, “sua querida mamãe” construiu. God Save The King.

Adam Patterson é cônsul honorário do Reino Unido no Paraná.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]