Como você se sentiria se, de repente, gratuitamente, um completo desconhecido dissesse que você é um perigo para os seus filhos? O que você pensaria de alguém que profere tal disparate? Seria muito estranho e preocupante se algo assim ocorresse, não? No entanto, infelizmente, esta não é uma mera hipótese literária ou retórica usada para impressionar e prender o leitor na abertura de um texto, mas um fato: um fato público, notório e chancelado por todo um grupo de juristas. Sim, é chegado o tempo em que os pais – e a família de um modo geral – estão sob suspeita em nosso país.
Há pouco mais de um mês, o procurador Luís Carlos Kothe Hagemann, representando o governo do estado do Rio Grande do Sul, pediu ingresso como amicus curiae junto ao STF no processo de Valentina Dias – trata-se do último recurso de uma família, também gaúcha, que deseja garantir o direito de educar sua filha em casa (isto é, de praticar o homeschooling), depois de anos de frequência à escola, a qual mais retardava e comprometia o desenvolvimento da menina do que o promovia. Até aí, nada de mais, tudo de acordo com a lei e com os procedimentos democráticos previstos. Contudo, na petição de ingresso, o procurador Hagemann decidiu incluir uma citação do filósofo espanhol Fernando Savater que, entre outras coisas, diz o seguinte: “Um dos primeiros objetivos da educação é preservar os filhos de seus pais”.
É chegado o tempo em que os pais – e a família de um modo geral – estão sob suspeita em nosso país
E agora? Esqueça o aprimoramento dos talentos do indivíduo, esqueça a preparação para o exercício da cidadania, esqueça a aquisição dos conhecimentos necessários para o mundo do trabalho. Tudo isso é conversa para boi dormir ou, na melhor das hipóteses, são objetivos totalmente secundários sob o nome de “educação” – e que todos nós ajudamos a pagar com os nossos impostos. Assim, segundo o procurador, a educação escolarizada é, na realidade, um grande pretexto para salvar as crianças do convívio nocivo e potencialmente arriscado junto de seus pais, de modo que, portanto, o homeschooling é, invariavelmente, a entrega das crianças às mãos de seus algozes, anteriormente também conhecidos como “pais”.
A situação toda parece tão surreal que seria preferível que fosse um exagero, um excesso de zelo de uma mãe homeschooler maluca qualquer; mas não é, pois a coisa foi adiante. Ao nos encontrarmos, por duas vezes, pessoalmente, com representantes da Procuradoria, pedindo uma retratação desse nítido desrespeito para com todas as famílias, o disparate adquiriu os excelsos ares de “liberdade de expressão”, culminando numa nota de desagravo de toda a corporação a favor da “inviolabilidade do exercício da profissão” do procurador Hagemann. Pode-se daí facilmente concluir que, se um médico comete um erro, ele será responsabilizado; se um policial comete um erro, ele será responsabilizado; mas, se um advogado comete um erro, ele não será responsabilizado; em vez disso, tornar-se-á uma espécie de divindade intocável, esteja ele defendendo o que estiver, mesmo o indefensável.
O pior de tudo, porém, não é a simples ocorrência dessa situação específica, mas vê-la e compreendê-la como parte de uma iniciativa muito mais ampla, que atua por meio de frentes múltiplas e de alcance internacional pelo fim da família tradicional (pai, mãe e filhos). E não é preciso ir muito longe para confirmar a existência de uma tal iniciativa: basta ler os itens que a ONU deseja implementar na Agenda 2030, por exemplo. Mas este já é assunto para um outro artigo...
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